segunda-feira, 28 de setembro de 2020

OS BAILES DA VILA RÉ




Em 1970, eu era um adolescente de 15 anos e estava vivendo a melhor época de toda a minha vida, isto eu ainda não sabia, digo isto agora..., mas como todo garoto daquela época, já trabalhava com carteira assinada numa cia. de seguros, no centro da cidade de São Paulo, tinha algumas paquerinhas e adorava passar as tardes de sábados no Centro Educacional da Moóca, na piscina, e quando eu chegava em casa começava a preparar-me para ir a um baile chamado “O Cafona”, que ficava na Vila Ré, zona leste da cidade de São Paulo.

Assim que eu chegava em casa tomava um demorado banho de balde, perfumava-me com um desodorante barato e vestia uma calças boca de sino azul com listras brancas e cintura bem alta, uma camisa “Gola Olímpica”, que chamávamos carinhosamente de “Volta ao Mundo”, um sapato com saltos enormes, chamado salto carrapeta e um cinto com uma fivela imensa. Repartia meus cabelos compridos ao meio, emprestava algum dinheiro do meu pai e ia ao encontro dos amigos Israel e Luizão para encontramos as meninas mais bonitas da nossa região, nos bailes do Cafona.

Assim que eu encontrava com meus amigos eu era zombado com vários assobios, enaltecendo meus trajes e o agradável odor de perfume de quinta categoria e lá seguíamos nós em plena “louçania” dos nossos 15 anos, falando muito sobre o cotidiano, das lindas meninas que se déssemos sorte encontraríamos no baile, sorrisos altos e olhos observadores para tudo e para todos.

Após uma caminhada de uns trinta minutos, chegávamos ao Cafona e ficávamos observando as lindas meninas chegarem com os cabelos estilo Chanel, com muito “laquê”, vestidos rodados e sorrisos alegres, algumas vinham acompanhadas dos pais, o que nos deixava muito apreensivos, pois, sabíamos que seria muito difícil abordá-las.

Após alguns minutos naquele flerte, tomávamos coragem, passávamos a língua nos lábios e entrávamos sem muita purpurina. Às vezes éramos notados logo na entrada e ficava fácil bailarmos as três horas apenas com uma única menina. Isto acontecia muito raramente, pois, na maioria das vezes éramos obrigados a garimpar nosso tesouro com muito esforço, mas sempre acabava por arranjar alguma garota interessante.

Os meus amigos se davam muito bem, pois, eles eram “galinhas”, hoje o pessoal fala “pegador”, bailavam com quase todas as meninas, sem restrição, agora eu era um pouco tímido e meio “bobão”, pois, não aceitava bailar com qualquer menina e sempre escolhia as mais bonitas, o que diminuía muito minhas chances de arranjar alguma menina para dançar. Quantas vezes passava o baile todo observando os meus amigos bailando e eu bebendo guaraná e de olho em alguma “linda” e ela não dava a mínima chance de aproximação.

Quando anunciavam a última música, ficávamos desesperados para encontrar alguém, valia tudo, o importante era dançar a última música que se chamava Rock Roll Lo Lo Bye cantada por B.J.Thomas. Rostos colados e os olhares de algumas mães colados na gente, nada de grave acontecia, a não ser alguns cochichos inaudíveis prometendo vir no próximo baile e sempre enaltecendo a beleza que às vezes não condizia com a realidade, mas valia tudo, até dar alguns “pisões” nos pés das damas e ser largado em plena música. Que vergonha!

Terminada a música, dávamos um enorme suspiro e saíamos com a alma repleta de felicidade, alguns beijinhos em algumas meninas sempre prometendo o retorno no próximo final de semana e pé na estrada porque se fazia tarde, afinal tínhamos que chegar em casa antes da meia-noite.

Quantos bailes! Quantas alegrias vividas ao longo da nossa adolescência que hoje permanecem no meu coração e faz-me sentir que vivemos nossa época intensamente, com a pureza e alegria dos jovens da geração 70. Que saudades!


APRENDIZ DE AÇOUGUEIRO








 Estava eu lá despreocupado, lendo os meus gibis do Zorro, do Super Homem, do Batman, Homem Aranha, tinha apenas quatorze anos anos foi quando minha mãe chegou do açougue do senhor Mário e anunciou meu novo serviço. Iria trabalhar com o senhor Mário, um Português que tinha um açougue na esquina da rua onde morávamos, no bairro Cidade A.E.Carcalho, zona leste da cidade de São Paulo. Eu não me contive e perguntei para minha mãe:

— Mas mãe, o que vou fazer num açougue? Não sei nem cortar um pãozinho direito, imagina eu cortando pedaços de boi! minha mãe disse que já tinha combinado até quanto eu iria receber e foi então que perguntei:

— Quantos milhares de dinheiro receberei? minha mãe disse:

— Você não receberá dinheiro algum, apenas um quilo da melhor carne por dia trabalhado.

Desmanchei-me em gargalhadas e supliquei a minha mãe que desmanchasse o contrato, pois, estaria disposto a fazer qualquer outra coisa, menos trabalhar por carne, sem ver a cor do dinheiro.

Mamãe insistiu e no outro dia lá eu estava na frente do açougue do senhor Mário esperando o mesmo abrir o estabelecimento do comércio do boi.

O senhor Mário chegou, desejou-me bom dia, entramos no açougue, apresentou-me todos os compartimentos do açougue e o meu primeiro serviço foi aprender a encher linguiça.

Era muito engraçado eu colocando pedaços de carnes e passando por uma máquina e a linguiça saía prontinha do outro lado da máquina. Até que era divertido o meu serviço.

Atendia alguns fregueses, enchia a linguiça e no final do expediente ajudava a fazer uma faxina no açougue. Jamais o senhor Mário permitia que eu cortasse carne, pois, ele tinha medo de eu acidentar-me. Ao fechar o açougue o bondoso Português cortava vários bifes de primeira qualidade, embrulhava e dava para eu levar para minha casa.

Os dias foram passando, as linguiças foram sendo feitas, o açougue andava muito limpo, até que num determinado dia resolvi que não queria mais receber os meus proventos em carne e sim em dinheiro, pois, eu tinha arranjado uma namoradinha e quando íamos ao parque de diversão não podia comprar nada, pois, não aceitavam carne para pagamento. O senhor Mário falou: não há problemas, todos os dias dou um dinheiro para você, só que as carnes você não levará mais.

Fiquei muito feliz e contei a quebra de contrato para minha mãe que não gostou da troca, pois, assim que eu dava o dinheiro recebido para ela, eu tinha que voltar ao açougue ou ir ao mercadinho para comprar “mistura”.

Trabalhei muito tempo com o senhor Mário no açougue, ora recebendo o meu salário em dinheiro, ora recebendo em carne, até que ele vendeu o açougue e começou a construir uma linda casa e lá fui eu trabalhar de servente na construção da linda casa do Sr.Mário.

O senhor Mário era um ótimo patrão, um amigo de todos e gostava muito da nossa família. Bela recordação!

domingo, 27 de setembro de 2020

CURSO DE ADMISSÃO

 Em mil novecentos e sessenta e seis conclui o curso primário e para entrar no ginásio era necessário fazer uma preparação que se chamava admissão. Eu tinha apenas onze anos e morava em um bairro chamado Ponte Rasa, Zona Leste da cidade de São Paulo.

Eu era um ótimo aluno durante o curso primário, o que levou meu pai a crer que eu poderia ser um excelente aluno durante os anos posteriores. Meu pai decidiu matricular-me em um curso de admissão existente no bairro Ermelino Matarazzo. Eu estudava no período da tarde e no começo do curso assistia as aulas regularmente, mas com o passar dos dias fiz algumas “amizades” na sala de aula com alguns alunos de caráter duvidoso e eles convidaram-me para “cabular” as aulas e irmos nadar em uma grande lagoa chamada cisper.

Inicialmente recusei o convite, pois, sabia que meus pais mais cedo ou mais tarde descobririam, mas com o passar dos dias resolvi experimentar a grande aventura, que mais tarde iria arrepender-me pelo resto da minha existência. Eu e mais alguns alunos que não queriam estudar nos encontrávamos a um quarteirão da escola e íamos alegres para a lagoa. Chegando na lagoa entrávamos na água para tomar nosso banho e refrescar-se das tardes quentes e ficávamos brincando de luta livre. Passados as horas, retornávamos para casa e dizia para nossos pais que a aula tinha sido muito interessante, pois, a professora tinha feito uma palestra sobre plantas e não tinha dado nenhuma matéria.

A ingenuidade da minha mãe naquela época não permitia que ela  observasse que eu tinha “cabulado" a aula. O tempo foi passando e às vezes nós cabulávamos as aulas para refrescar-se na lagoa. Um “colega” até pediu para fazer um carimbo de “presença” para poder carimbar nossa carteirinha escolar nos dias da nossa ausência no curso de admissão.

Lá pelo mês de outubro, meu pai começou a ficar muito desconfiado, pois, eram folhas e mais folhas do caderno em branco e resolveu ir até à escola, saber o que estava acontecendo. Acabou descobrindo que eu não ia à escola já fazia um bom tempo; agradeceu o diretor e pediu para o mesmo desligar-me da escola. Chegou em casa meu pai descreveu minuciosamente para minha mãe todo o ocorrido durante aquele período em que eu estava na escola. Após levar uma surra inesquecível com duas varas de marmelo trançadas, aplicada por minha mãe, resolveram aplicar-me um castigo. Colocaram-me com várias senhoras beatas para eu estudar “o catecismo”. Eu rezava dia e noite sem parar, preparando-me para fazer a primeira comunhão e redimir-me do meu pecado em ter cabulado várias aulas do curso de admissão e gasto o suado dinheiro do meu pai.

Foram semanas de rezas sob a supervisão acirrada de uma freira e tinha dias em que eu chorava baixinho por ter que rezar mais de cem pai-nossos e cem ave-marias. Estava definitivamente arrependido, mas o pior ainda estava por vir e após longas horas de orações meu pai anunciou enfaticamente que jamais durante a sua existência iria pagar escola para mim, se eu quisesse estudar teria que manter meus estudos com o suor do meu rosto e disse rispidamente que eu iria começar na manhã seguinte a trabalhar com ele, numa fábrica de consertos de instrumentos musicais.

No primeiro dia de serviço achei muito divertido, pois, tinha que acordar de madrugada, preparar a marmita e sair apressado para pegar o trem na estação de Ermelino Matarazzo. Como eu era muito pequeno, assim que o trem chegava na estação era muita correria para entrar no vagão e lá estava eu no meio de tantos trabalhadores, transpirando e silenciosos, pensando no que iriam enfrentar naquele dia. Ao meio-dia tínhamos que esquentar nossas marmitas numa “espiriteira”, que era uma lata de sardinha com álcool e comer a marmita sem falar absolutamente nada e voltar para lustrar enormes instrumentos de sopro sob uma espessa camada de fuligem. Uma semana foi suficiente para eu contrair uma diarreia que não esqueço até hoje, tive que ir ao hospital e resolveram suspender o meu castigo.

Com apenas doze anos eu já sentia o peso da responsabilidade em ter que arrumar qualquer serviço para pagar o meu novo curso de admissão. Foi alguns dias procurando um serviço e acabei encontrando em uma fabricazinha de cintos no bairro de Artur Alvim, como ajudante geral, fiquei muito feliz, afinal teria como pagar meu curso de admissão. Quando fui contratado deixei bem claro para o Sr.Francisco, o proprietário da fabricazinha, que eu só poderia trabalhar no período da manhã, pois, a tarde eu necessitava estudar, ele não fez nenhuma objeção, apenas iria pagar a metade do salário. Aceitei o emprego e comecei a trabalhar e foram os seis meses mais sofridos da minha vida, pois, tinha que acordar cedo, ir trabalhar, voltar apressado para casa de bicicleta, almoçar e arrumar-me para ir para o novo curso de admissão.

Terminou o ano do novo curso de admissão e fiz uma prova no Ginásio Álvares de Azevedo, em Itaquera e fui aprovado e comecei a fazer o curso ginasial à noite e trabalhava na fábrica de cintos durante o dia. Senti a responsabilidade, aprendi a dar muito valor no meu serviço e comecei a pensar muito, antes de “cabular” a aula para ir ao cinema com as namoradinhas.

Agradeço muito, do fundo do meu coração aquele castigo que meu pai impôs e até hoje serve-me de lição para eu não enganar mais ninguém e dar muito valor nas ajudas alheias, pago com sofrimento e guardado na minha memória até a hora que Deus chamar-me e solicitar a descrição detalhada do ocorrido. Não haverá sofrimento, apenas algumas lágrimas brotarão dos meus olhos e direi: valeu a Pena! Obrigado meu pai, obrigado minha mãe por tornar-me homem desde a mais tenra idade!

sábado, 26 de setembro de 2020

SENESCÊNCIA

 


Quando somos detentores de uma vasta experiência de vida somos convidados a preparar nossa malinha para a morte, para algumas pessoas até este direito é negado e não há tempo suficiente para despedidas, simplesmente é ceifado o convívio entre os mortais e pronto.

Antes das despedidas a maioria das pessoas consegue ficar velhas, é como se fosse um preparatório para a passagem para outra vida, esta etapa é a mais difícil, pois, já não temos mais aquela disposição em encarar a vida com muita naturalidade, os passos tornam-se lentos, a memória começa a dar os primeiros sintomas de esquecimento e toda aquela alegria de outrora fica acanhadamente entre sorrisos em bocas desdentadas.

As primeiras dores começam a aparecer pelo flácido corpo que insiste em estar ereto, as praias são trocadas por farmácias, os cassinos e puteiros dão lugar aos consultórios médicos e a contabilidade da vida é atualizada diariamente entre pensamentos repletos de nostalgias.

As missas que outrora eram acompanhadas somente em batizados ou casamentos tornam-se constantes e aquele sentimento de tentar cavar um lugarzinho no céu faz da fé a prioridade do cotidiano.

A visão um pouco turva requer lentes mais espessas e perder os óculos em um canto qualquer da casa faz parte de todo envelhecimento saudável, feliz é quem tem alguém que possa ajuda-lo nesta árdua tarefa.

Os banhos são mais demorados e os movimentos bem mais lentos e quando cai o sabonete no chão a única opção é pegar outro sabonete, pois, caso opte em agachar corre o sério risco em ficar curvado por bons pares de dias.


Ao olhar para o espelho e observar tantas rugas traz aquele sentimento de caminho trilhado entre morros e mares em busca da felicidade e a satisfação mistura-se com um sorriso de alegria em receber este troféu dado por Deus. Envelhecer.

FÉRIAS NA PRAIA DA MOCOCA

    








Após trabalhar trezentos e sessenta e cinco dias em uma pequena empresa em janeiro de mil novecentos e noventa e oito, com o chefe mais chato do mundo, ter que bater o “bendito” ponto, cartão, crachá e ultimamente passarmos apenas o dedo e nossa impressão digital detectar toda a nossa assiduidade. Ônibus lotados, metrô sob um calor infernal, trens parando constantemente na grande metrópole São Paulo, finalmente consegui sair de férias!

Acordei no primeiro dia de férias meio assustado sem saber o que fazer com os trinta dias conseguidos com muito mérito e fiquei vagando entre a sala e a cozinha. Abria a geladeira, assistia televisão, comecei a ler um livro e não passei da terceira página, a inquietação atormentava meu espírito e então ia ao quintal alimentar os pássaros e não sabia onde estava o alpiste e acordei a minha esposa, que carinhosamente a chamava de “patroa”. Então ela acordou meio brava dizendo que estava na segunda gaveta do armário e voltou a dormir, tentei inutilmente regar aquela flor que tanto amava e estava tão linda, mas não sabia onde estava o regador e novamente a esposa foi solicitada para dizer onde estava o tal regador. Barulho de água na chaleira e inventei depois de tanto tempo fazer um café e levar para a esposa que ainda estava deitada, não sabia onde estava o pó de café e novamente acordei a linda dona do lar. Até que num determinado instante ela ficou muito zangada comigo, acordou e dirigiu-se até a cozinha e mostrou onde estava tudo aquilo que eu procurava e eu disse:

— Desculpe-me querida, estou de férias! Ela com uma cara de leão de circo disse:

— Pois, seria muito melhor se você estivesse trabalhando, pois, só assim não seria acordada a esta hora!

— Mas querida já são nove horas deste sábado ensolarado e maravilhoso!

— E dai, não sabe que meu horário de acordar são dez horas todos os dias?

Então sai vagando pelo quintal tentando encontrar o verdadeiro significado da palavra “férias” e quando pensei que tudo estava perdido e eu estava predestinado a passar as minhas férias sendo humilhado, subitamente e prontamente acordei a minha esposa e disse:

- Arruma as malas, vamos viajar para o litoral norte do estado de São Paulo agora e não se esqueça de levar aquele biquíni branco ao qual você fica muito “gostosa”! e sorri alegremente.

A minha amada sorriu e derreteu-se toda e correu fazer as malas para partirmos para nossas merecidas férias. Nossa? Claro que não, apenas a minha, a patroa não fazia nada o ano inteiro e ainda usufruía daquele maravilhoso período.

Todas as nossas malas foram colocadas no carro e foi então que eu observei que estava faltando o principal e logo gritei:

— Mas onde está a barraca de camping, querida? Ela falou nervosamente:

— Mas nós vamos acampar Luiz? e minha resposta foi lacônica:

— Sim, vamos acampar, há alguma objeção?

Humildemente ela foi até o grande porão existente na nossa casa e retirou a enorme barraca de camping e colocou sobre o carro com minha ajuda.

Entre nós arrumarmos todas as “tralhas” no velho chevette azul e eu beber algumas poucas cervejas restantes da noite anterior na geladeira demorou poucos minutos e todos estávamos preparados para “pegar” a estrada.

Novamente nossos conflitos entravam em erupção, pois, ela adorava ouvir pagode e eu admirava música popular brasileira e música clássica. Depois de vários minutos fizemos um acordo e saíamos ouvindo o maravilhoso Chico Buarque de Holanda que logo na descida da serra, na rodovia dos Tamoios foi substituído por “grandes” grupos de pagodes. Aceitei ouvir as músicas um pouco contrariado e coloquei meu inseparável protetor auricular nos ouvidos e assim os pagodeiros desceram cantando e eu dormindo sob o efeito de algumas cervejas ingeridas antes da partida e pouco eu ouvia as vozes estridentes dos “maravilhosos” cantores da minha amada.

Quantas vezes fui acordado durante a viagem e algumas perguntas foram feitas sobre o tal grupo de pagode:

— São maravilhosos, não são Luiz? referindo ao som que estava tocando no CD e eu dizia rapidamente sem olhar para minha esposa, entre uma babada e outra:

— Realmente são excelentes! Se você encontrar músicos melhores que esses avise-me por favor!

Ria alegremente e virava meu rosto para outro lado e continuava a dormir.

Quando meus sonhos pareciam tornar-se realidade eu fui acordado com o carro na areia, sendo chacoalhado para montarmos a barraca de camping. Então abri os olhos vagarosamente e vi a chuva correndo pelos vidros do carro e pedi para minha esposa procurar uma  pousada qualquer mais próxima daquela praia e minha patroa chacoalhou-me novamente e disse com todas as forças do coração:

— Acorda seu fanfarrão, chegamos e é necessário montarmos a barraca! Está chovendo!

Abri a porta vagarosamente e meu corpo quente insistia para que eu ficasse mais alguns minutos dentro do carro, mas não houve acordo, todos me puxaram para fora do veículo e eu sai cambaleando para montar a bendita barraca.

Nunca, jamais, eu tinha montado uma barraca de camping em toda a minha vida e existia a grande necessidade de montarmos a barraca rapidamente, pois, a chuva insistia em não querer dar uma trégua.

Rapidamente sai a procura de algumas pessoas que pudessem nos ajudar a montar a barraca, que era enorme e consegui depois de percorrer várias barracas alguns garotos que disseram que adoravam montar barracas de camping e assim os garotos montaram a barraca quase tudo sozinhos, sob a minha supervisão, segurando uma grande lanterna para iluminar a área onde estava sendo montada a barraca de camping, sempre ingerindo alguns goles de cervejas geladas.

Agradeci aos garotos e começamos a colocar nossos colchonetes, fogão, um pequeno armário e roupas para dentro da barraca e logo após tudo estar bem arrumados ficamos muito alegres.

Quando tudo parecia tranquilo e todo o pessoal estar dormindo tive uma grande vontade de beber algumas cervejas bem geladas e sai a procura da tal cerveja e a encontrei em um quiosque na praia bem distante da nossa barraca com pessoas cantando e outras dançando e encostei meu umbigo no balcão e pedi uma cerveja bem gelada.

Apareceu uma linda garota e perguntou educadamente o que eu queria e eu disse a ela que desejava uma cerveja muito gelada para beber no balcão e prontamente fui atendido.

Após várias cervejas bebidas comecei a ensaiar os meus primeiros passos de dança, imbuídos sobre o efeito do álcool e assim continuei até que inesperadamente apareceu minha esposa com um enorme facão dizendo que iria cortar meu orgão genital. Rapidamente despedi-me de todos e segui em passos trôpegos acompanhando minha amada. Que vergonha! Não consegui esquecer minha última parceira de dança, uma moreninha maravilhosa que dançava alegremente por todo o quiosque.

Chegamos na barraca e meu colchonete foi apresentado, joguei-me pesadamente sobre o mesmo e adormeci com os passos da linda garota dançando na minha mente. Escutei um raivoso boa noite e um durma com Deus dito pela minha patroa e adormeci sonhando com as minhas férias.

No outro dia o Sol fez-se presente, levantei sorrateiramente e sentei na areia, em frente a barraca de camping e fiquei vários minutos olhando para o mar e refletindo sobre o acontecido no dia anterior e prometi para mim mesmo que a partir daquele dia não faria mais patifarias. Ficamos um mês, acampados na Praia da Mococa em Caraguatatuba, litoral norte da cidade de São Paulo e aprendi que nossos impulsos e emoções nos levam a cometer alguns absurdos como o ocorrido. Foi uma das melhores férias da minha vida! Quantas patifarias! Ela deve me odiar até hoje. Belas recordações!

VIDIOBEL - NOSSA PRIMEIRA TV

Em mil novecentos e sessenta e oito foi o ano que adquirimos nosso primeiro aparelho de TV na loja do turco da Praça Ana das Dores, no bairro Cidade A.E. Carvalho, em São Paulo. Até então não tínhamos TV e sempre assistíamos na casa da vizinha. Realmente não tínhamos uma vida muito agradável, pois, era muito constrangedor pedir humildemente para a vizinha se poderia assistir TV, às vezes nós disfarçávamos e levava um pedaço de bolo para vizinha e por lá mesmo nós ficávamos sentados num canto do sofá assistindo desenhos até começar a novela e então mamãe gritava do outro lado da rua, era hora de entrar e abandonar a televizinha.

Quando mamãe anunciou que tinha comprado uma TV, nós, crianças ficamos muito eufóricos e não víamos a hora da mesma chegar.

O caminhãozinho estacionou em frente de casa e perguntaram se era ali que morava minha mãe. Nós, alegres mostramos o caminho e os dois carregadores/montadores pegaram aquela caixa enorme e depositaram cuidadosamente na sala de casa. Imediatamente após mamãe assinar alguns papéis os homens começaram a montar a TV.

Não havia espaço para tanta alegria entre nós e acompanhávamos cada peça retirada da caixa com muita atenção e sempre perguntando se haveria a possibilidade de assistirmos a TV naquele dia e os montadores diziam que dependia muito do nosso comportamento, se ficássemos quietinhos seria possível, senão não seria possível. Houve um silêncio entre nós até a TV ser ligada e aparecer a primeira imagem de uma propaganda da Sheel (gasolina), não houve como segurar nossa explosão de felicidade e abraçamo-nos e demos vários gritos de alegria e independência da TV da vizinha. Não haveria mais sofrimento, mamãe nunca mais iria nos chamar no melhor momento do desenho. Muita alegria!

Eu tinha e ainda tenho uma relação dos melhores momentos da minha vida e este está relacionado entre os primeiros.

Naquele dia ficamos até tarde assistindo a TV até  meu pai chegar do serviço e ficar encantado com a TV. Minha mãe sentou-se num canto do sofá e sorria com ar de muita satisfação.

Após alguns dias que a TV estava em casa, já estava muito bem definido nossos programas favoritos. Eu adorava assistir luta livre, minhas irmãs deliciavam com pífias novelas e foi numa destas disputas por canal que minha irmã Suely arremessou um tamanco de madeira contra a minha pessoa e acabou acertando a lateral da nossa TV. Colocamos a mãos na cabeça e decidimos não falar nada para mamãe, até o dia que ela descobriu e aplicou uma memorável surra de vara de marmelo em nós.

Passados alguns dias minha mãe comprou na lojinha da Dona Matilde um plástico que simulava as cores da TV, o plástico tinha três cores: na parte superior era azul, simulando o céu, na parte do meio era verde que dava a impressão que era a mata e na parte inferior era cinza-claro simulando a terra, o solo. Assim nossos programas tinham mais vida e éramos muito felizes.

Foram vários os programas favoritos e que marcaram profundamente nossa vida naquela época, lembro-me de alguns programas, como: festival de música da Record, Programa de Luta Livre e Ted Boy Marino era nosso herói, a novela Irmãos Coragem, um desenho japonês chamado Nacional Kid, Corrida Maluca, Sílvio Santos, O Vigilante Rodoviário com seu querido e amado cão chamado Lobo, Viagem ao fundo do mar, perdidos no espaço com o amável e ingênuo Dr. Smith, Pernalonga, A praça é Nossa, O Zorro, Lessie, A Feiticeira, Os três Patetas, O gordo e o Magro entre outras joias raras que minha mente não alcança mais.

Maravilhosa TV Vidiobel que tanto nos proporcionou alegrias e momentos inesquecíveis e encantadores!


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

0 RELÓGIO CUCO


 Existem alguns objetos da nossa casa que marcam profundamente nossa vida. O objeto que marcou minha vida foi um relógio cuco que meu pai ganhou de um velho amigo chamado Sr.Heitor. Lembro-me perfeitamente quando meu pai ganhou o relógio cuco. Todos finais de semana meu pai e o Sr.Heitor jogavam baralho, um jogo chamado Presidente. O jogo era silencioso e para quebrar a monotonia do silêncio começaram uma acirrada discussão sobre política e eram constantes as divergências de opiniões. Após o término de uma partida de baralho o Sr.Heitor levantou-se da poltrona, irritado, pois, tinha perdido a mesma e caminhou nervosamente até a cozinha e trouxe uma caixa de papelão e entregou para meu pai. A caixa foi colocada sobre a mesa, sob nossos olhares perscrutadores de crianças e meu pai  começou a abri-la cuidadosamente, pois, pensava tratar-se de mais uma brincadeira do Sr.Heitor e quando viu que era um relógio cuco, seus olhos marejaram e ele não se conteve de felicidade e deu um forte abraço demorado no Sr.Heitor. Todas as peças do relógio foram retiradas cuidadosamente da caixa de papelão e colocadas sobre a mesa.

O relógio era construído com madeira maciça e tinha vários entalhes artísticos e era envernizado, o pêndulo, a corrente e o peso eram cromados, os números eram em algarismo romano com um pequeno cristal colocado sobre os algarismos, os ponteiros que marcavam as horas e os minutos eram dourados e brilhantes.

O relógio que meu pai ganhou era muito bonito e tinha sido fabricado na Inglaterra, um selo de garantia colocado na parte de trás denunciava sua origem. Meu pai e Sr.Heitor começaram a montar o relógio e transcorridos alguns minutos o mesmo já estava totalmente montado.

Um enorme prego foi fixado na parede da sala e cuidadosamente nivelaram o relógio, acertaram os ponteiros com o horário vigente e meu pai puxou vagarosamente a corrente para baixo para dar corda e após alguns segundos começamos a ouvir os primeiros tic-tacs. Fomos advertidos por meu pai que jamais deveríamos dar corda no relógio, pois, ele ficaria encarregado desta delicada tarefa, ele estava precavendo-se das nossas mãozinhas destruidoras.

Após ouvir atentamente as orientações do meu pai, sentamos no chão, embaixo do relógio e ficamos aguardando pacientemente o passarinho aparecer. O tic-tac constante enchia toda a sala e a nossa ansiedade aumentava a cada movimento do ponteiro de minutos, o silêncio era total até o instante em que se abriu uma portinha e saiu um lindo passarinho de madeira com peninhas multicoloridas cobrindo o corpo e pôs-se a cantar vários "cucos".

Após o maravilhoso canto o passarinho recolheu-se, a portinha fechou-se e saudamos o mais novo amiguinho do nosso lar com palmas e alguns gritinhos estridentes das minhas irmãzinhas.

Os segundos, os minutos, as horas e os dias foram passando, passando e o relógio cuco já fazia parte da família, da nossa vida.

Semestralmente o relógio cuco era retirado da parede e colocado sobre a mesa e meu pai desmontava-o para executar uma limpeza e lubrificação do mesmo. Neste dia fazíamos uma verdadeira festa, ficávamos em volta da mesa admirando as mãos hábeis do meu pai manuseando minúsculas peças, jogando um pouco de óleo numa determinada peça, assoprando outra peça, mas sempre de olho na gente, pois, nossa paixão pelo passarinho era muito grande e sempre queríamos tocá-lo e admirar o mesmo, saber como poderia cantar alegremente de hora em hora, sendo de madeira. Para saciar nossa curiosidade pueril, meu pai deixava nós segurarmos o passarinho por alguns segundos. Após delicada limpeza e lubrificação, o relógio era recolocado na parede e após dar corda o tic-tac era audível.

Era o relógio cuco que avisava minha mãe quando ela tinha que dar algumas colheradas de um fortificante chamado “Emulsão Scoth”, tal fortificante tinha um sabor horrível e várias vezes torcia para o relógio cuco parar, para evitar tal sofrimento, mas sabia que era quase que impossível, devido a meticulosa limpeza e lubrificação do mesmo. Nessa hora eu odiava o relógio cuco e cheguei mesmo a praguejar o inocente passarinho.

O agradável aroma de café sendo coado, esparramava um delicioso odor pela casa e coincidia com o ponteiro menor no algarismo seis e o ponteiro maior no algarismo doze. Eram seis horas da manhã e o passarinho cantava seis cucos e meu pai levantava-se para ir ao trabalho. Foi assim que comecei a aprender as horas, pelas constantes coincidências dos fatos do cotidiano e a quantidade de cucos ouvidos.

Nos dias chuvosos em que mamãe proibia-nos de sair de casa, após brincar com todos os brinquedos de casa, eu improvisava uma balança com o relógio cuco. Atravessava minhas raquíticas pernas sobre o pêndulo que ficava na extremidade da corrente e balançava alegremente, sempre de olho em todas as direções para não ser surpreendido por minha mãe e evitar uma surra de vara de marmelo. Foram várias balançadas e nunca fui surpreendido até o dia que relógio cuco desabou sobre minha cabeça e fui parar no hospital e quando souberam que tinha sido o relógio cuco o agressor da minha mente, as enfermeiras e o médico desabaram em risos enquanto davam alguns pontos na minha cabeça.

Os cucos acompanharam-me desde as primeiras letras aprendidas na cartilha Caminho Suave, curso de Admissão, ginásio e uma parte do primeiro ano do colegial. Era o relógio que controlava meu tempo de estudos e durante as minhas hesitações, dúvidas, das primeiras palavras aos problemas de Física, Matemática, Química e outras disciplinas era para o relógio cuco que eu dirigia meu olhar como que suplicando alguma ajuda até que repentinamente as respostas surgiam na minha mente como por encanto.

Foi o relógio cuco que me acordou no primeiro dia de trabalho como office-boy numa Cia.de Seguros, assinalou o horário que devia encontrar com a minha primeira namorada e denunciava-me quando chegava atrasado em casa.

Saí de casa aos dezessete anos para ir estudar no interior de São Paulo, despedi-me de todos e assoprei um carinhoso beijo para o relógio cuco e fiquei pensando que ele nunca mais iria controlar a minha vida.

Quando regressei para casa após alguns meses, não encontrei mais o relógio cuco na parede da sala, perguntei a todos sobre o seu paradeiro e disseram que o relógio tinha quebrado e tinham doado o mesmo para um carroceiro que passava constantemente na rua onde morávamos.

Olhei para a parede onde o mesmo ficava e restava apenas a marca com seu formato, abaixei a cabeça tristemente e ouvi alguns tic-tacs produzidos pela minha imaginação e a partir daquele momento passei a sentir uma saudade imensa daquele querido amigo que me acompanhou da infância até a juventude com seu constante tic-tac sem parar.

Controlou meus risos, minhas lágrimas, minhas alegrias e minhas tristezas, foi amigo e em alguns momentos foi meu algoz, mas estava sempre dentro do meu coração, até hoje. Talvez ainda eu o encontre num ferro-velho da periferia da cidade de São Paulo! Seria muita Felicidade. Deixa para lá, continuamos com os tic-tacs da nossa vida.


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

LÁPIS DE COR

 

      Naquela manhã do rigoroso inverno de 1962 parecia que o mundo ia acabar, o céu estava muito escuro, prenunciando um enorme temporal. A luz da cozinha foi acesa, ouvi  barulho de água da torneira enchendo uma chaleira e o barulho de alguns fósforos sendo acesos, era mamãe que sempre levantava bem mais cedo do que todos nós para fazer os preparativos para o café matinal.

     O barulho incessante do vento assoprando ruidosamente lá fora, fazia-me encolher na cama e sentir um pouco de medo do fim do mundo, que naquela época já existia alguns profetas anunciando que iria chegar. Pensava que aquele dia seria realmente o final e tudo estaria acabado. Nunca mais poderia jogar a minha querida bola de capotão com papai que ganhara no Natal, não poderia mais brincar com meus coleguinhas de “mão na mula”, bolinha de gude, rodar pião, pega-pega e outras brincadeiras da época, sentia-me muito triste em ter que partir não sabendo pra onde, realmente não estava preparado para o fim do mundo.  O passarinho do relógio cuco anunciou seis cantos, eram seis horas. Papai levantou e dirigiu-se ao banheiro para sua ablução matinal, eu encolhi-me na cama um pouco mais e fiquei esperando ser chamado por mamãe para ir à escola.

      O cheiro agradabilíssimo de café coado por mamãe invadia todos os cômodos da casa e coloquei-me de pé rapidamente. Assim que papai saiu do banheiro eu entrei para tomar banho e fiquei imaginando irmos para escola sob aquele temporal que não demoraria muito a desabar. Mamãe apressou-me com alguns toques na porta, saí e sentei-me preocupadíssimo a mesa para tomar café com rabanadas que papai tanto apreciava. Naquele dia eu estava muito introspectivo, calado, sério e todos notaram, mas continuaram a falar do cotidiano sem fazer comentários a meu respeito.

          Papai deu um beijo na mamãe, um beijo na minha testa e saiu apressado para o trabalho debaixo de alguns pingos que começara a cair. Logo em seguida eu e mamãe saímos para a escola. Iria ter aula de desenho e a professora Judite deixou bem claro que quem não trouxesse lápis de cor não entraria na sala.

      Chegamos na escola sob um forte temporal que começara a cair e mamãe abriu minha mochila para ver se tudo estava certo, se não faltava nenhum material escolar e repentinamente franziu a testa e fez uma cara de espanto e disse que eu tinha esquecido a caixa de lápis de cor. Minha reação também foi de espanto, pois tinha colocado os lápis na minha mochila e não sabia quem tinha tirado de lá. Comecei a chorar baixinho e mamãe acalmou-me passando a mão no meu rosto e dizendo que iria pegar os lápis em casa e voltaria rapidamente.

         Entrei no pátio da escola, procurei os alunos da minha classe, entrei na fila, cantamos o Hino Nacional e dirigimo-nos a sala de aula sob a supervisão da professora. Sentamos todos educadamente, a professora fez a chamada e logo em seguida distribuiu os desenhos que seriam pintados naquela aula. Quando ela percebeu que eu não tinha lápis de cor, pediu gentilmente que eu aguardasse mamãe do lado de fora da sala de aula.

       Saí morrendo de vergonha e fiquei perto da porta aguardando eternos minutos o retorno de mamãe. Foram momentos de angustia, perplexidade e medo. Às vezes colocava o rosto numa pequena janelinha da porta e via todos os alunos pintando alegremente e eu ali do lado de fora aguardando o lápis de cor. O vento gélido no corredor, o barulho do trovão e os raios apavoravam-me e eu comecei a rezar baixinho para que aquele momento cessasse o mais breve possível.

            Avistei mamãe no final do corredor e corri até ela com os olhos marejados, mamãe entregou-me a caixa de lápis de cor, beijou meu rosto e pediu carinhosamente que eu entrasse na sala de aula rapidamente.

       Pedi licença para professora para entrar na sala e amaldiçoei-a mentalmente até chegar na “carteira escolar”. Sentia-me culpado por ter feito mamãe ficar toda molhada e eu comecei a pintar o desenho que acabou todo borrado por alguns pingos de lágrimas de arrependimento e só então descobri o verdadeiro amor que uma mãe nutre por um filho em todas as fases da vida.

            Naquele dia chegando em casa dei um apertadíssimo abraço em mamãe e pedi a ela “mil desculpas” e vários perdões. Ela sorriu angelicalmente e disse que não fizera mais que uma obrigação de mãe. Não me contive novamente e deixei rolar algumas lágrimas pela face. Deixei a mochila no sofá e fui almoçar, refletindo muito sobre o ocorrido e prometendo que quando soubesse escrever contaria esta “História”. Passaram-se somente cinquenta e oito anos e o sonho acaba de concretizar-se, consegui escrever. Tá escrito. Lápis de Cor.

 

O CIRCO DA PERIFERIA

 

       

O que poderia existir de mais belo que a chegada de um circo na periferia da cidade de São Paulo na década de 70? Absolutamente nada era mais belo e emocionante para nós adolescentes moradores no querido bairro Cidade A.E.Carvalho, zona leste da cidade de São Paulo.

     Quando aquelas carretas enormes e multicoloridas passavam na Avenida Campanelas e estacionavam em frente à Praça Ana das Dores, "a pracinha", nossos corações disparavam de alegria e os corações de nossas mães disparavam de aflição, pois, sabiam que seria quase que impossível segurar seus filhos em casa.

     A molecada chegava sorrateiramente, perscrutando o local e os trabalhadores braçais com perguntas tolas, tais como: como é o nome do circo? Quando irá estrear? Tem bichos? Qual é o nome do palhaço?

     Os trabalhadores bem mal-humorados e suando muito se restringiam a dar respostas curtas, sempre tirando enormes tábuas dos caminhões, empurrando ferros, esticando lonas, sem parar e sem olhar para cara de ninguém. Nós “xeretando” aqui e ali e lá estavam os artistas dentro de um enorme “trailer” lanchando tranquilamente e rindo alto, denunciando que estavam muito felizes. Os dias iam passando e o circo ia sendo montado, dia e noite de trabalho e após dois ou três dias o mesmo já estava montado. Lindo, majestoso, imponente! Mudando toda a paisagem da pracinha.

     Eis que chega o grande dia da estreia e nota-se uma enorme placa com os dizeres: Grande Estreia! domingo às 15 h o circo Cigano convida você e sua família para assistir o maior espetáculo da Terra! Acontecia duas sessões, às 15 h e às 20 h e sempre íamos nas duas sessões, sendo que na segunda sempre levávamos nossas namoradinhas.

     Alguns alto-falantes eram esparramados pelo lado externo do circo e tocavam várias músicas orquestradas, Carlos Gonzaga com uma música chamada Diana e várias músicas de Roberto Carlos.                       Entre pipoqueiros, vendedores de algodão-doce esparramava-se nossa Felicidade.

     Segurando a mão da minha namoradinha comprava os ingressos e um enorme saco de pipocas e entrávamos vagarosamente, prestando atenção em tudo e em todos. Sentávamos na arquibancada feita de madeiras, bem lá no alto e ficávamos aguardando ansiosamente o início do espetáculo.

     Várias crianças corriam para lá e para cá e várias gargalhadas eram ouvidas dentro do camarim. Repentinamente a música cessava, abriam-se as cortinas e entrava o apresentador trajando um "flaker" preto e com uma voz rouca anunciava-se o início do espetáculo, sempre agradecendo nossa presença.

     O apresentador saia do palco, anunciando dois palhaços que entravam dando piruetas e muito tapas, caiam e levantavam-se constantemente, levando o público ao delírio de tanto rir.

     Aplausos e mais aplausos misturavam-se com gargalhadas e alguns assobios. Nossos corações ficavam disparados quando as trapezistas começavam a subir uma escada feita de corda, o silêncio era total até que elas se posicionavam lá no topo e começavam-se a balançar sem parar até que uma delas lançava-se no ar indo segurar a mão da outra. Sentia as mãos da minha namoradinha toda trêmula e suadas, encostávamos nossos corpos em sinal de apreensão e medo, batíamos palmas nervosamente e ficávamos aliviados quando tudo terminava. E novamente lá estavam os palhaços estapeando-se e risos, e gargalhadas ecoavam ao longo do circo. O espetáculo não durava mais que duas horas, mas para nós parecia que eram apenas alguns minutos. Ficávamos muito tristes quando os artistas despediam-se se curvando elegantemente para agradecer sob muitos aplausos e assobios.

     Fechavam-se as cortinas e nossos corações ficavam pequenininhos, era hora de voltar para casa comentando as principais atrações e combinando voltar no próximo final de semana para assistir o maior espetáculo da Terra. O circo, o circo da Periferia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

BAÚ DE HISTÓRIAS



Saudades de um pequeno baú que ganhei da minha querida avó materna Leodovina quando eu tinha seis anos. Um pequeno baú feito totalmente em madeira, com um minúsculo cadeado e uma chave bem pequenininha.

Quando completei seis anos minha avó deu o bauzinho de presente para mim, desejou feliz aniversário, alguns beijos e disse: Parabéns, querido netinho Luiz Carlos, este bauzinho é para você guardar todos os seus sonhos quando você crescer e quando eu não estiver mais presente neste mundo lembrará de mim com muito carinho.

Peguei o pequeno baú, esbocei um sorriso, dei um abraço na minha avó e fiquei a imaginar: “Poxa! para que serve um baú? Tão pequeninho, não cabe nem minhas bolinhas de gude, minhas figurinhas!” Guardar meus sonhos? Naquele exato momento não via nenhuma utilidade para o pequeno baú.

Quando completei sete anos comecei a vender alguns pirulitos que minha mãe fazia, pelas ruas próximo da minha casa no bairro Ponte Rasa, zona leste da cidade de São Paulo e todo o dinheiro arrecadado guardava no meu bauzinho, trancava cuidadosamente com um pequeno cadeado e escondia a chave dentro da minha caixinha de lápis de cor, com o dinheiro ganho com o fruto do meu humilde “trabalho” comprava algumas balas, algumas bolinhas de gude e se sobrasse algum dinheiro adquiria alguns envelopes de figurinhas para preencher meu álbum El Cid.

Aos nove anos o senhor Heitor, amigo do meu pai, fez uma caixa de engraxar sapatos e eu fui engraxar sapatos na frente da minha casa no bairro Ponte Rasa, zona leste da cidade de São Paulo e lá estava o bauzinho ganho da minha avó recebendo as poucas moedas que seriam gastas em folhas de papel de seda, varetas, cola para confeccionar minhas primeiras pipas.

Por algum tempo o pequeno bauzinho ficou repousando entre os meus objetos que eu possuía sem exercer nenhuma atividade e quando chegou minha adolescência, aos catorze anos conheci minha primeira namorada que adorava escrever cartas de amor.

Quase todas as semanas eu recebia uma carta de amor da minha querida namorada e não sabia onde poderia guardá-las e foi aí que novamente meu pequeno baú entrou em ação.

Todas as cartas de amor que eu recebia eu colocava dentro do bauzinho, trancava e escondia o mesmo dentro do meu guarda-roupas para que minhas irmãs não lessem.

Já com dezesseis anos comecei a frequentar um clube popular chamado Centro Educacional da Moóca e todos os sábados eu ia tomar um banho de piscina e arejar a mente do estafante serviço de office-boy no centro de São Paulo e sempre levava meu bauzinho repleto de cartas de amor guardadas com muito carinho e entre um mergulho e outro na piscina abria cuidadosamente o pequeno baú, retirava uma carta a esmo e começava a lê-la e viajar no tempo.

Até eu completar vinte e um anos meu pequeno baú serviu para guardar vários objetos de valor: relógios, anéis e alguns documentos que eu julgava ser de valor.

Comprei um lindo par de alianças de ouro e guardei cuidadosamente no meu pequeno bauzinho até o dia do meu noivado e quando chegou o dia de ficarmos noivos, abri cuidadosamente meu pequeno baú, retirei as alianças, fechei-o e coloquei o mesmo dentro do meu guarda-roupas e segui para a casa da minha namorada, entrei sorrateiramente e coloquei delicadamente a aliança no dedo da minha namorada que estava dormindo e quando ela acordou, pedi para ela olhar para a mão direita e perguntei se ela estava feliz. Um carinhoso abraço e um demorado beijo surgiu como resposta.

O tempo foi passando e lá estava meu bauzinho repousando dentro do guarda-roupas e foi quando minha noiva completou vinte anos e comprei uma linda caneta tinteiro banhada a ouro na Rua sete de Abril, no centro da cidade de São Paulo e pedi para o pessoal da loja onde comprei a aliança gravar o nome e a data  do aniversário da minha noiva, cheguei em casa, abri o baú e coloquei a caneta e lá a mesma ficou até o dia do aniversário da minha noiva quando dei de presente no dia do aniversário.

Casamos e no dia do nosso casamento dei o bauzinho de presente para minha noiva e quando ela abriu o mesmo e encontrou uma pequena chave e uma carta ficou muito surpresa e começou a ler a carta e as lágrimas começaram a surgir nos olhos da minha querida esposa. Dobrou cuidadosamente a carta, colocou-a dentro do bauzinho me deu um caloroso e apertado abraço e disse:

Que lindo este presente! Então quer dizer que você comprou uma casa para nós construirmos nosso lar?

Após o casamento não tive mais acesso ao Baú de histórias, pois o mesmo pertencia a minha esposa e todas às vezes que acontecia algo de bom ela vinha com o bauzinho depositava no meu colo e dizia:

Abra-o, aí está mais um presente para você meu querido.

Abri o baú e lá estava a chave do nosso primeiro  carro que ela tinha comprado em uma agência do bairro do Tatuapé.

Às vezes eu perguntava se ela estava cuidando bem do bauzinho e ela sorria e  falava que sim até o dia em que veio sorrindo angelicalmente e pediu para eu abrir o bauzinho e quando abri o mesmo e retirei o  resultado do exame de gravidez, abracei-a entre lágrimas e disse alegremente:

- Você está grávida sua linda! E ela respondeu: Sim, sim e acredite tentei fazer surpresa para você e consegui.

Naquele dia comemoramos bebendo um bom vinho com uma tábua de frios sob a luz de velas e decidimos dar o bauzinho para nosso filho que iria nascer e contar toda a história do Baú para ele. Meu filho ficou com o baú seguindo toda a tradição da nossa família e recentemente deu de presente para minha neta o pequeno Baú com a seguinte lembrete: Guarde e zele muito bem por este bauzinho que seu avô ganhou quando ele era criança. Dentro deste baú passou uma vida, a vida da nossa família.

 


terça-feira, 22 de setembro de 2020

MAPPIN

  


 E assim que desembarcou na antiga rodoviária da estação da Luz, dentro do ônibus observou uma grande movimentação de pessoas que passavam rapidamente com enormes malas pra lá e pra cá.
        O motorista abriu o grande compartimento que ficava na parte debaixo do ônibus, colocou as enormes malas do senhor João no chão, conferiu o bilhete e fechou rispidamente o enorme “maleiro” e disse:
- Felicidades e muito sucesso nesta grande metrópole!
O senhor João, sua esposa Maria e os seis filhos pequenos pegaram as enormes malas e saíram silenciosamente pelas ruas da redondeza da rodoviária sem destino, entraram num pequeno boteco e pediram alguns pastéis e duas tubaínas e lá ficaram a degustar os pastéis e olhando toda aquela movimentação da rua com muito receio da grande metrópole chamada São Paulo.
        Após saciarem a enorme fome de todos, saíram silenciosamente olhando para o chão enquanto as crianças admiravam com muita alegria e ansiedade tudo e todos.
        Embarcaram em um ônibus lotadíssimo com destino a zona Leste de São Paulo onde poderiam rever um compadre que tinha vindo para a cidade há muitos anos e prontificou-se a recebe-los até que arranjassem um pequeno cômodo por lá mesmo, um emprego e a vida pudesse ganhar o seu rumo na grande cidade.
        Durante o café da manhã o compadre disse ao senhor João:
- Olha compadre, vocês podem ficar aqui na nossa humilde casa morando conosco até “aprumarem” e depois que conseguirem um pequeno cômodo por aqui mesmo, tenho um pequeno serviço para o senhor.
O senhor João olhou para o compadre e foi logo perguntando:
- Mas que tipo de serviço eu poderia fazer se só sei capinar roçado, cuidar de gado e cortar lenha?
O compadre foi logo explicando que conhecia um senhor que trabalhava numa agência de publicidade e sempre estava precisando de pessoas para carregar algumas placas com propagandas pelo centro de São Paulo.
O senhor João um pouco receoso perguntou:
- Mas, Compadre, será que eu sirvo pra este tipo de serviço? Afinal nem ler e escrever eu sei!
- Ora compadre, é só carregar a placa pra lá e pra cá e ficar orientando o pessoal para ir até a loja, muito fácil o serviço e nem é necessário ser “letrado”.
        No outro dia lá estavam os compadres descendo do ônibus no centro da capital paulista e entrando numa agência de publicidade e o senhor João foi apresentado para um senhor obeso que fez algumas perguntas para o senhor João e alguns minutos depois lá estava o senhor João em frente a uma grande loja de departamentos chamada Mappin.
        Após algumas orientações do senhor obeso o senhor João foi “abandonado” em frente ao Mappin com uma enorme placa que cobria todo o seu esquelético corpo e seguiu entrando pela rua Sete de Abril com destino a Praça da República.
        O senhor João muito apreensivo andava pela praça toda e sempre o seu olhar parava naquela enorme loja de departamentos chamada Mappin e então ele ficava imaginando o que poderia ser encontrado naquela linda e majestosa loja com um enorme relógio, muitas letras que ele não conseguia identificar por não saber ler.
        Pessoas passavam apressadas e a maioria nem parava para observar a insignificante presença do senhor João e no finalzinho da tarde quando uma enorme chuva fez todos encostarem embaixo de enormes toldos o senhor João coçou a enorme barba e ficou com muita vontade de entrar naquela linda loja.
        O senhor obeso apareceu e depositou uma quantia em dinheiro na mãos do senhor João desejou uma boa noite e pediu que na manhã seguinte estivesse no mesmo lugar em que estivera naquela manhã e saiu apressado pelo viaduto do Chá.
        O senhor João parou em frente a grande loja e decidiu entrar e vagarosamente atravessou o andar térreo repleta de pessoas olhando tudo e ficou a imaginar na grandiosidade daquela cidade e foi andando entre alguns esbarrões parou diante de uma enorme vitrine que vendia brinquedos e humildemente perguntou quanto custava aquela pequena bonequinha com um lacinho na cabeça, a vendedora muito atenciosa disse o preço, o senhor João enfiou a mão no bolso da carcomida calça e retirou a quantia exata para adquirir aquela linda bonequinha para levar para sua filhinha caçula.
        Chegou em casa após duas horas dentro do sufocante ônibus, entrou sorrateiramente e depositou a bonequinha ao lado da filhinha que já estava dormindo, tomou um banho e foi dormir ao lado da esposa e ainda teve tempo de dizer sobre o presentinho que tinha comprado na grande loja chamada Mappin.

        Adormeceu muito feliz com a imagem da grande loja de departamentos na cabeça e o rostinho de felicidade da filhinha no dia posterior quando iria ganhar a linda bonequinha comprada no Mappin.
  

        

        

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

ANJOS DE SAMPA


A ideia surgiu do amigo Marcelinho durante uma reunião numa churrascaria na Vila Maria Baixa.
Entre vários pedaços de carnes assadas o querido amigo sugeriu que talvez fosse muito gratificante ajudar alguns moradores de rua, fornecendo roupas e comida para este pessoal que tanto necessita de comida, carinho e atenção.
Marcamos um novo encontro e imediatamente colocamos na rede social (Facebook) que estávamos arrecadando roupas de todos os tipos e mantimentos para darmos aos moradores de rua e na primeira semana de janeiro as primeiras roupas e mantimentos começaram a ser arrecadadas e ficavam armazenadas no meu quarto, que seria a central de armazenamento das roupas e mantimentos.
A semana foi passando e a Rosana, tia do Marcelinho disse que poderia preparar os marmitex e assim os alimentos também começaram a chegar: arroz, feijão, óleo e todos os tipos de alimentos que seriam utilizados para o preparo dos marmitex.
Tínhamos definido um dia para sair e entregar as roupas e os marmitex para o pessoal morador de rua: seria,17 de janeiro de 2013.
Lá pelas sete horas da noite, distribuímos todas as roupas pelos dez carros que comporia a caravana da solidariedade e fomos pegar os marmitex na casa da Rosana no Jardim Brasil e assim que tudo estava arrumado, lá pelas dez horas da noite, rumamos muito feliz para o metrô Santana para entregar os primeiros marmitex e roupas. Paramos os carros e imediatamente o pessoal morador de rua começaram acanhadamente a chegar e escolher algumas peças de roupas e receber o marmitex. Agradeciam e saiam humildemente e iam sentar-se num canto qualquer para comer a única refeição do dia, com a cabeça baixa e olhares perdidos na imensidão de pessoas que passavam rapidamente sem olhar para ninguém.
Num determinado instante quando eu estava parado distribuindo os marmitex para o pessoal, apareceu um rapaz e após receber a comida disse:
- O Du, você não se lembra de mim não?
Um pouco envergonhado em não reconhecer o rapaz disse:
- Você me desculpa amigo, mas não estou reconhecendo você não!
Ele com os olhos cheios de lágrimas disse:
- Pois, é amigão, estudamos juntos, éramos colegas de classe, lembra-se?
Após alguns minutos tentando lembrar-me do rapaz, consegui recordar e dei um fraterno abraço no querido amigo da escola e ele contou-me como tinha ido parar na rua e aquilo me deixou muito triste e emocionado, mas continuamos nosso caminho e fomos até o Mercadão Municipal e lá entregamos mais alguns marmitex e seguimos direto para Praça da Sé, onde existem muitas pessoas em condição de morador de rua.
Chegamos na Praça da Sé, sob uma linda lua que iluminava toda a praça e com todo o nosso trabalho de ajudar o próximo e paramos os carros ao lado da catedral da Sé e anunciamos que tinha muitos marmitex pra todos e foi um corre-corre danado e logo se formou uma grande fila para retirar os marmitex que foram consumidos em menos de uma hora. Pegavam os marmitex e sentavam-se nos bancos da Praça e ficavam comendo humildemente foi quando chegou uma garota que estava com uma enorme barriga e disse que queria um marmitex e eu disse:
- Querida, sinto muito, todos os marmitex foram distribuídos e não restou nenhum.
Imediatamente um morador de rua apresentando muita fome deu o seu marmitex para a garota grávida e disse:
- Olha moça, pode comer o meu marmitex, afinal você está grávida e necessita dar comida para o seu filhinho, depois eu me viro.
Aquele gesto cortou meu coração, meti a mão no bolso e dei um dinheiro para o morador de rua comer um marmitex num restaurante da Praça.
A alegria de ver todo aquele pessoal comendo e escolhendo algumas roupas nos carros é indescritível e assim que todas os marmitex acabaram, pedimos a todos que déssemos as mãos e orássemos o Pai-Nosso e agradecêssemos a Deus aquele momento maravilhoso.
Uma grande roda de pessoas que receberam a comida e as roupas foi formada na Praça entre nós participantes e assim que a oração terminou, um participante morador de rua pediu a palavra e disse:
“Em uma roda de oração se abrirmos os olhos e olharmos para o lado veremos que somos todos iguais perante a Deus”.
Os carros foram ligados e estávamos saindo da praça foi quando ouvimos de um morador de rua falar: “Se existe Deus de milagre, faz meu milagre acontecer”.
Lentamente os carros foram saindo da Praça da Sé e fiquei em grande silêncio agradecendo a Deus por participar deste ato de solidariedade que com certeza foi abençoado por Deus.
Ainda tivemos tempo de parar na Padaria Rossi na Vila Maria Baixa para comermos alguns lanches e agradecer a Deus mais uma vez este lindo ato de amor ao próximo.
Agradeço de coração a todos que partiparam deste ato de amor, que foram: Leonardo Martins, Milla, Fernanda, Diego, João, Marcelinho, Serjão, Nino, Volnei, Felipe, Rosana (nossa querida cozinheira), a namorada do Felipe, a sobrinha do Felipe, Carine, Matias, Rebelde e a todos que forneceram roupas e direta ou indiretamente ajudaram a amenizar a dor deste pessoal tão necessitado que são os moradores de rua. Deus abençoe a todos! Muito Obrigado!
Carlos Eduardo Martins de Aquino (Du)

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...