segunda-feira, 28 de setembro de 2020

APRENDIZ DE AÇOUGUEIRO








 Estava eu lá despreocupado, lendo os meus gibis do Zorro, do Super Homem, do Batman, Homem Aranha, tinha apenas quatorze anos anos foi quando minha mãe chegou do açougue do senhor Mário e anunciou meu novo serviço. Iria trabalhar com o senhor Mário, um Português que tinha um açougue na esquina da rua onde morávamos, no bairro Cidade A.E.Carcalho, zona leste da cidade de São Paulo. Eu não me contive e perguntei para minha mãe:

— Mas mãe, o que vou fazer num açougue? Não sei nem cortar um pãozinho direito, imagina eu cortando pedaços de boi! minha mãe disse que já tinha combinado até quanto eu iria receber e foi então que perguntei:

— Quantos milhares de dinheiro receberei? minha mãe disse:

— Você não receberá dinheiro algum, apenas um quilo da melhor carne por dia trabalhado.

Desmanchei-me em gargalhadas e supliquei a minha mãe que desmanchasse o contrato, pois, estaria disposto a fazer qualquer outra coisa, menos trabalhar por carne, sem ver a cor do dinheiro.

Mamãe insistiu e no outro dia lá eu estava na frente do açougue do senhor Mário esperando o mesmo abrir o estabelecimento do comércio do boi.

O senhor Mário chegou, desejou-me bom dia, entramos no açougue, apresentou-me todos os compartimentos do açougue e o meu primeiro serviço foi aprender a encher linguiça.

Era muito engraçado eu colocando pedaços de carnes e passando por uma máquina e a linguiça saía prontinha do outro lado da máquina. Até que era divertido o meu serviço.

Atendia alguns fregueses, enchia a linguiça e no final do expediente ajudava a fazer uma faxina no açougue. Jamais o senhor Mário permitia que eu cortasse carne, pois, ele tinha medo de eu acidentar-me. Ao fechar o açougue o bondoso Português cortava vários bifes de primeira qualidade, embrulhava e dava para eu levar para minha casa.

Os dias foram passando, as linguiças foram sendo feitas, o açougue andava muito limpo, até que num determinado dia resolvi que não queria mais receber os meus proventos em carne e sim em dinheiro, pois, eu tinha arranjado uma namoradinha e quando íamos ao parque de diversão não podia comprar nada, pois, não aceitavam carne para pagamento. O senhor Mário falou: não há problemas, todos os dias dou um dinheiro para você, só que as carnes você não levará mais.

Fiquei muito feliz e contei a quebra de contrato para minha mãe que não gostou da troca, pois, assim que eu dava o dinheiro recebido para ela, eu tinha que voltar ao açougue ou ir ao mercadinho para comprar “mistura”.

Trabalhei muito tempo com o senhor Mário no açougue, ora recebendo o meu salário em dinheiro, ora recebendo em carne, até que ele vendeu o açougue e começou a construir uma linda casa e lá fui eu trabalhar de servente na construção da linda casa do Sr.Mário.

O senhor Mário era um ótimo patrão, um amigo de todos e gostava muito da nossa família. Bela recordação!

2 comentários:

  1. Eu era muito pequena acho que tinha 5anos nesse tempo mas adorava comer carne bela recordação

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  2. Encher linguiça ,kkkk
    Essa foi boa ,se fosse hoje valeria a pena a carne no lugar do dinheiro,e quantos churrascos poderia fazer.

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