Eu tinha sete anos e minha companheira era a teimosia, eu realmente era muito teimoso, quando pediam para eu não fazer nada que poderia me prejudicar então era hora da teimosia entrar em ação
Adorava empinar pipas, assim como todos os garotos da região onde eu morava e nosso local predileto era em um grande parque existente na frente da residência da nossa família. Geralmente eu ia empinar pipas com meu pai, aos domingos de manhã e nem sempre existia vento suficiente para colocar minha pipa no ar. Minha mãe nunca deixava eu ir ao parque sozinho. Então eu ficava observando os moleques empinarem as pipas do muro que existia em frente a nossa residência e ficava muito triste e zangado por não poder estar empinando pipas com meus amiguinhos. Resolvi tomar uma atitude drástica e fui falar com minha mãe da minha revolta, da minha tristeza em ver meus amiguinhos empinando pipas e eu não poder participar e fui logo dizendo:
— Mãe, porque a senhora não deixa eu empinar pipas com meus amiguinhos? Ela calmamente pediu que eu sentasse em uma cadeira e foi falando.
sabe porque meu filho, porque é perigoso estar sozinho no parque e você ouviu dizer que tem um homem pegando crianças, colocando em um saco e depois joga dentro de um rio? Fiquei alguns minutos pensando na grande mentira que minha mãe estava tentando eu fazer acreditar, embora às vezes ficava muito apreensivo e falei.
— Mas mãe, é só um pouquinho, depois entro vou tomar banho, jantar e ir dormir, posso?
Senti um olhar fulminante da minha mãe e já esperava ela negar e foi quando ela falou.
— Está bom filho deixa a mãe acabar de estender esta roupa que vou um pouquinho com você no parque para você soltar seu quadrado. Entrei correndo para dentro de casa e peguei a minha pipa e a linha e corri para a frente da minha casa para esperar minha mãe.
Os minutos foram passando, passando e nada de aparecer minha mãe para irmos ao parque, desci sorrateiramente a grande escada existente na nossa residência, abri o portão e fiquei imaginando: já que minha mãe não aparece vou dar uma fugidinha e ela nem irá perceber.
Fechei o portão e observei que vinha na calçada um cachorro babando e quando passou perto de mim, tentei espantá-lo com medo que me mordesse e inesperadamente ele avançou em mim e mordeu minha mão e minha coxa esquerda e foi embora. A mordida doía muito e voltei correndo para contar o ocorrido para minha mãe que imediatamente começou a fazer o curativo sob uma enorme bronca. Após ser medicado com algumas ervas minha mãe pediu para eu ficar quietinho no sofá que ela iria preparar o jantar.
Passados alguns minutos apareceu a Marinilza que era uma vizinha e pediu para falar com minha mãe, eu corri até a cozinha e anunciei a presença da vizinha que passaram a conversar sobre o cotidiano e eis que em um determinado momento ela disse:
— Sabe Thereza, não deixa o Luiz sair sozinho por aí que disseram que tem um cachorro louco babando dando voltas pelo bairro. Minha mãe pediu mais detalhes sobre o cachorro e chegaram a conclusão que eu tinha sido mordido pelo cachorro louco.
Minha mãe agradeceu a Marinilza pela informação e voltou para mim e disse: assim que seu pai chegar nós vamos ao médico para saber como devemos fazer.
Comecei a soluçar baixinho e pensava que eu também iria ficar louco. Meu pai chegou, chamaram um táxi e dentro de uma hora estávamos na frente de um enorme hospital chamado Emílio Ribas.
O médico me atendeu, os enfermeiros fizeram alguns curativos e receitou tomar vinte e uma injeções na barriga uma injeção por dia.
Eu odiava injeções e voltamos para casa e no outro dia minha tia Terezinha foi levar eu até o hospital para tomar a primeira injeção na barriga.
Era uma verdadeira aventura chegar até o hospital, pois, eram necessários tomar dois ônibus para ir e dois ônibus para voltar e estava começando a gostar das viagens cotidianas para chegar até o hospital.
Lembro-me de dois fatos muito engraçados que aconteceram durante as nossas viagens: O primeiro foi quando eu embarquei e minha tia ficou do lado de fora e o motorista começou a acelerar e o pessoal a gritar que tinha ficado um menininho órfão sozinho. Minha tia entrou no coletivo e xingou muito o motorista e eu apenas sorria.
Em outra ocasião quando estávamos passando em frente a estação ferroviária Júlio Prestes, no centro da capital paulista observamos que tinha uma multidão e nos aproximamos e lá estava o querido Mazzaropi participando de mais uma filmagem de um filme que estava sendo filmado naquele tempo.
Depois de alguns dias tomando a vacina para cachorro louco já nem chorava mais, tinha acostumado com a mesma e as enfermeiras até brincavam comigo, enaltecendo minha coragem.
O tempo passou e as vinte umas injeções foram aplicadas na minha barrica e não senti nenhum sintoma de loucura o que tranquilizou muito meus pais que a partir daquele momento sempre ficavam vigiando minhas atitudes que pareciam normal e até hoje quando me dispo e vejo a cicatriz lembro desta fantástica história.