Aos dezessete anos de idade eu não conhecia o mar,
nunca tinha ido a uma praia, somente conhecia lagoas, piscinas e rios, mas o
mar jamais tinha visto de perto, apenas pela velha televisão que tínhamos em
casa em preto e branco, marca videobel.
Aos sábados eu não trabalhava e a tarde adorava
assistir filmes de aventuras sobre o mar, povoados distantes perdidos no mundo
e foi em um desses sábados que assistindo uma reportagem sobre marinheiros
embarcando em um grande navio que me despertou uma vontade enorme de ser marinheiro.
Assim que terminou a reportagem dei um pulo enorme da
poltrona e gritei bem alto:
- Já sei, vou ser marinheiro e viajar pelo mundo e
voltarei somente daqui a alguns anos para este pedaço de chão!
Minha mãe e meu pai arregalaram os olhos de espanto,
caminharam lentamente até mim e disseram:
Ora garoto, sabemos que você tem um espírito
aventureiro, mas querer entrar na marinha de guerra já é demais, vai descansar
um pouco quem sabe você muda de ideia.
A mente borbulhava em pensamentos em querer ser
marinheiro a qualquer custo e assim ao anoitecer fui dormir e sonhei a noite
toda que eu estava embarcando em um grande navio de guerra para um local
ignorado. Eram centenas de grumetes todos uniformizados de branco embarcando no
porto e despedindo-se dos familiares que abanavam lenços entre lágrimas.
No outro dia, durante o café matinal que fazíamos aos
domingos reunidos em família comuniquei que iria alistar-me na marinha de
guerra quando chegasse a data específica do começo do alistamento.
Procurei saber se eu podia alistar-me na cidade de São
Paulo e fiquei sabendo que poderia alistar-me somente na cidade de Santos e
assim os dias foram passando e eis que o dia do começo do alistamento militar
chegou e eu já estava com todos os documentos preparados para poder embarcar na
velha rodoviária de São Paulo que naquela época ficava na estação da Luz, no
centro velho de São Paulo.
Anotei o nome do quartel, o endereço, datilografei
enfiei no bolso da velha calça Jeans e desci a serra com um sentimento de
vitória em poder sentir que meus sonhos começavam a levantar âncoras.
Apresentei-me no
quartel e entreguei todos os documentos a um oficial que pediu para eu aguardar
que iriamos fazer uma prova para poder aferir o nosso conhecimento e em seguida
teríamos que voltar para fazer o exame médico em outro dia.
Entre idas e vindas de São Paulo para Santos foram umas
quatro viagens após a primeira viagem eu já não pagava mais a passagem de
ônibus, apenas mostrava o alistamento militar e seguia viagem gratuitamente.
As medidas da farda foram tiradas, os números dos
sapatos anotados e estava tudo certo para poder engajar na marinha e foi quando
fui informado que iria servir a marinha em uma cidade chamada Ladário como
grumete no estado do Mato Grosso do Sul.
Fiquei super espantado, pois pensava que serviria em
Santos ou Rio de Janeiro e fui falar com o comandante e ele deu um sorriso
debochado e disse: Ora soldado, aqui você apenas obedece e já está definido
para onde você vai ou prefere ir para o exército?
Um pouco abalado pelas circunstâncias disse que
gostaria de ir para o exército e ele pediu para eu esperar que faria a minha
transferência. Aguardei alguns minutos e foi quando o comandante apareceu com
uma folha pedindo para eu apresentar-me ao exército que ficava no Parque Dom
Pedro II. Passados alguns dias apresentei-me no exército e deram-me um atestado de
excesso de contingente e meu sonho tinha acabado de naufragar naquele instante.