quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MEU AMIGO PAIVA

 Após um longo processo seletivo em uma repartição pública da cidade de Ilhabela, litoral norte da cidade de São Paulo fui aprovado para o cargo de Auxiliar de Serviços Gerais e fui convocado para apresentar os documentos e fazer o exame médico.

Fomos recebidos em uma enorme varanda da repartição pública e lá estava eu com minha barraca de camping nas costas esperando a minha vez de ser chamado para apresentar todos os documentos exigidos e eis que aproximou um senhor e nos apresentamos, ele chamava-se Paiva e foi logo perguntando:

O senhor é da onde senhor Luiz? Respondi calmamente: sou de Guarulhos, São Paulo e o Paiva disse que morava em Caraguatatuba, São Paulo e perguntou onde eu iria ficar após a contratação para exercer o cargo de ASG. Olhei alguns pássaros que pousavam nas árvores fazendo uma enorme algazarra e disse:

— Olha amigo, até agora não tenho nenhum lugar para hospedar-me e ficaria muito grato se você pudesse indicar um lugar neste paraíso e foi quando o Paiva disse:

— Senhor Luiz, onde moro tenho alguns chalés para alugar, caso o senhor se interesse está a sua disposição.

Esbocei um sorriso de agradecimento e disse que ficava muito longe da ilha e tentaria arrumar algum lugar para morar perto do local de trabalho.

Após uma longa e agradável conversa com meu mais novo amigo Paiva, sentei-me em uma mureta, acendi um cigarro e fiquei a imaginar:

“Poxa! este "cara" deve ser uma pessoa muito boa, pois, ofereceu um lugar para eu morar.”

No meio dos candidatos apareceu uma senhora muito simpática que era chefe de uma seção da repartição e disse para nós que necessitava de dois homens para trabalhar no setor de limpeza geral e meu amigo Paiva fez o convite para mim que aceitei de imediato, pois, imaginava que durante o nosso trabalho poderia nos conhecer melhor e esticar nossa conversa por longos dias de trabalho.

Logo no primeiro dia de trabalho percebi que o serviço seria um pouco diferente daquilo que eu imaginava e assim começamos a varrer lentamente a frente da repartição pública entre vários diálogos e a minha curiosidade em conhecer o local de trabalho, as novas colegas de trabalho, os chefes da repartição, olhava para o outro lado da rua e sentia que ali seria o meu lugar, sim eu estava morando em uma ilha, Ilhabela e faria de tudo para manter-me por um longo período naquele paraíso.

O tempo foi passando e conheci uma senhora muito falante e muito risonha e tornamos muito amigos e ela fazia questão de levar-me a todas as repartições para conhecer tudo e todos e lá ficava meu amigo Paiva a desempenhar o cargo com muita responsabilidade e quando eu chegava da minha visita o meu amigo Paiva perguntava:

— O senhor foi aonde senhor Luiz? Eu respondia.

— Ah! Fui conhecer um novo departamento com minha nova amiga.

— Mas o senhor esqueceu do serviço que teria que fazer e nossa supervisora veio perguntar do senhor e onde estava.

— Poxa! Paiva, desculpa, tinha até esquecido desta parte, mas prometo que não cometerei mais este ato e quando minha amiga me convidar para nova excursão pelos departamentos vou declinar.

O semblante do meu querido amigo Paiva mostrava muita irritação e eu ficava um pouco apreensivo, mas bastava minha nova amiga aparecer e fazer um novo convite para “os passeios” pela repartição lá estava eu saindo sorrateiramente deixando meu amigo Paiva sozinho com as tarefas da repartição.

Após algumas semanas conhecendo toda a repartição pública (resolvi) encarar as minhas tarefas com um pouco mais de responsabilidade o que deixou o meu amigo Paiva um pouco mais tranquilo.

Após alguns meses desempenhando minha nobre função pedi uma transferência para trabalhar em uma escola e quando me despedi do querido amigo Paiva ele disse:

Boa sorte senhor Luiz, seja muito feliz e vê se no novo local de trabalho consegue um pouco mais de pró-atividade, respirou fundo e retirou-se calado e lá fui eu trabalhar pesadamente na escola.

O tempo foi passando e às vezes nos encontrávamos e o meu querido amigo Paiva ficava relembrando o pouco tempo em que estivemos trabalhando entre muita prosa e sorrisos, ora alegres, ora irritados pelo meu desempenho quanto ao meu nobre cargo.


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

MI MI MI

 Tudo estava preparado para a mudança para o litoral norte do estado de São Paulo.

No sábado, dia quatro de setembro de 2021 colocamos todos os meus pertences no pequeno caminhão e pegamos a estrada com destino a Caraguatatuba. O trânsito estava um pouco lento pelo motivo de ser véspera de feriado prolongado.

Após três horas e meia de viagem estávamos na frente da casa onde eu ia morar. Bati no portão e após alguns minutos fui atendido pelo meu amigo que ainda estava terminando de limpar a casa e após alguns minutos ele disse que poderia colocar os móveis dentro da casa. O motorista estava com muita pressa e ajudou a colocar os móveis mais pesados dentro da casa e o restante ficou esparramado no quintal para serem colocados depois.

O motorista e o ajudante partiram após uma breve despedida e foi aí que o meu amigo disse:

— Mas não irão ajudar o senhor a colocar os seus pertences dentro da casa? Eu disse:

— Não, eles foram contratados apenas para transportar e não para carregar.

— Mas aí como vamos fazer? Os móveis irão ficar aí no quintal?

— Não irão, irei colocar os móveis aos poucos dentro da casa. Algum problema?

O meu amigo balançou a cabeça e saiu vagarosamente muito irritado.

Assim comecei a colocar os móveis vagarosamente para dentro da minha residência e após alguns minutos o meu amigo sensibilizado e vendo que se deixasse por minha conta iria demorar muito tempo começou a me ajudar e ainda chamou uma colega dele e após alguns minutos todos os meus móveis e pertences estavam dentro da minha nova casa.

Pensam que comecei a arrumar os móveis? Que nada, corri até a adega que ficava em frente da casa e comprei várias cervejas para comemorarmos e lá ficamos a conversar sob o olhar crítico do meu amigo.

Fiquei comemorando durante quatro dias e foi quando comecei vagarosamente a arrumar as “coisas” dentro da minha casa e meu amigo andando e arrumando os materiais dele que estavam no quintal e eu querendo conversar e foi quando ele disse um pouco irritado:

Senhor Luiz, o senhor está cheio de mi mi mi. Vamos conversando e trabalhando, conversando e trabalhando, o senhor entendeu?

Por um momento pensei que ele ia pedir a casa e segui um pouco contrariado arrumando vagarosamente minha casa e após alguns dias inventamos uma nova palavra “mimizar" que significa: ficar falando, falando e falando sem trabalhar, sem arrumar nada, apenas vagando em pensamentos.

Aprendi e nestes dias estou com menos mi mi mi e vagarosamente arrumando a minha casa.

Basta de mi mi mi...Vai falando e trabalhando, falando e trabalhando.

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...