Quando completei seis anos minha avó deu o bauzinho de presente para mim, desejou feliz aniversário, alguns beijos e disse: Parabéns, querido netinho Luiz Carlos, este bauzinho é para você guardar todos os seus sonhos quando você crescer e quando eu não estiver mais presente neste mundo lembrará de mim com muito carinho.
Peguei o pequeno baú, esbocei um
sorriso, dei um abraço na minha avó e fiquei a imaginar: “Poxa! para que serve
um baú? Tão pequeninho, não cabe nem minhas bolinhas de gude, minhas
figurinhas!” Guardar meus sonhos? Naquele exato momento não via nenhuma
utilidade para o pequeno baú.
Quando completei sete anos comecei a
vender alguns pirulitos que minha mãe fazia, pelas ruas próximo da minha casa
no bairro Ponte Rasa, zona leste da cidade de São Paulo e todo o dinheiro
arrecadado guardava no meu bauzinho, trancava cuidadosamente com um pequeno
cadeado e escondia a chave dentro da minha caixinha de lápis de cor, com o
dinheiro ganho com o fruto do meu humilde “trabalho” comprava algumas balas,
algumas bolinhas de gude e se sobrasse algum dinheiro adquiria alguns envelopes
de figurinhas para preencher meu álbum El Cid.
Aos nove anos o senhor Heitor, amigo do
meu pai, fez uma caixa de engraxar sapatos e eu fui engraxar sapatos na frente
da minha casa no bairro Ponte Rasa, zona leste da cidade de São Paulo e lá
estava o bauzinho ganho da minha avó recebendo as poucas moedas que seriam
gastas em folhas de papel de seda, varetas, cola para confeccionar minhas
primeiras pipas.
Por algum tempo o pequeno bauzinho
ficou repousando entre os meus objetos que eu possuía sem exercer nenhuma
atividade e quando chegou minha adolescência, aos catorze anos conheci minha
primeira namorada que adorava escrever cartas de amor.
Quase todas as semanas eu recebia uma
carta de amor da minha querida namorada e não sabia onde poderia guardá-las e
foi aí que novamente meu pequeno baú entrou em ação.
Todas as cartas de amor que eu recebia
eu colocava dentro do bauzinho, trancava e escondia o mesmo dentro do meu
guarda-roupas para que minhas irmãs não lessem.
Já com dezesseis anos comecei a
frequentar um clube popular chamado Centro Educacional da Moóca e todos os
sábados eu ia tomar um banho de piscina e arejar a mente do estafante serviço
de office-boy no centro de São Paulo e sempre levava meu bauzinho repleto de
cartas de amor guardadas com muito carinho e entre um mergulho e outro na
piscina abria cuidadosamente o pequeno baú, retirava uma carta a esmo e
começava a lê-la e viajar no tempo.
Até eu completar vinte e um anos meu pequeno baú serviu para guardar vários objetos de valor: relógios, anéis e alguns documentos que eu julgava ser de valor.
Comprei um lindo par de alianças de ouro e guardei cuidadosamente no meu pequeno bauzinho até o dia do meu noivado e quando chegou o dia de ficarmos noivos, abri cuidadosamente meu pequeno baú, retirei as alianças, fechei-o e coloquei o mesmo dentro do meu guarda-roupas e segui para a casa da minha namorada, entrei sorrateiramente e coloquei delicadamente a aliança no dedo da minha namorada que estava dormindo e quando ela acordou, pedi para ela olhar para a mão direita e perguntei se ela estava feliz. Um carinhoso abraço e um demorado beijo surgiu como resposta.
O tempo foi passando e lá estava meu
bauzinho repousando dentro do guarda-roupas e foi quando minha noiva completou
vinte anos e comprei uma linda caneta tinteiro banhada a ouro na Rua sete de Abril,
no centro da cidade de São Paulo e pedi para o pessoal da loja onde comprei a
aliança gravar o nome e a data do
aniversário da minha noiva, cheguei em casa, abri o baú e coloquei a caneta e
lá a mesma ficou até o dia do aniversário da minha noiva quando dei de presente
no dia do aniversário.
Casamos e no dia do nosso casamento dei
o bauzinho de presente para minha noiva e quando ela abriu o mesmo e encontrou
uma pequena chave e uma carta ficou muito surpresa e começou a ler a carta e as
lágrimas começaram a surgir nos olhos da minha querida esposa. Dobrou
cuidadosamente a carta, colocou-a dentro do bauzinho me deu um caloroso e
apertado abraço e disse:
Que lindo este presente! Então
quer dizer que você comprou uma casa para nós construirmos nosso lar?
Após o casamento não tive mais acesso
ao Baú de histórias, pois o mesmo pertencia a minha esposa e todas às vezes que
acontecia algo de bom ela vinha com o bauzinho depositava no meu colo e dizia:
Abra-o, aí está mais um presente para
você meu querido.
Abri o baú e lá estava a chave do
nosso primeiro carro que ela tinha
comprado em uma agência do bairro do Tatuapé.
Às vezes eu perguntava se ela estava
cuidando bem do bauzinho e ela sorria e falava que sim até o dia em que veio sorrindo
angelicalmente e pediu para eu abrir o bauzinho e quando abri o mesmo e retirei o resultado do exame de gravidez,
abracei-a entre lágrimas e disse alegremente:
- Você está grávida sua linda! E ela
respondeu: Sim, sim e acredite tentei fazer surpresa para você e consegui.
Naquele dia comemoramos bebendo um bom
vinho com uma tábua de frios sob a luz de velas e decidimos dar o bauzinho para
nosso filho que iria nascer e contar toda a história do Baú para ele. Meu filho ficou com o baú seguindo toda a tradição da nossa família e recentemente deu de presente para minha neta o pequeno Baú com a seguinte lembrete: Guarde e zele muito bem por este bauzinho que seu avô ganhou quando ele era criança. Dentro deste baú passou uma vida, a vida da nossa família.