quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MEU AMIGO PAIVA

 Após um longo processo seletivo em uma repartição pública da cidade de Ilhabela, litoral norte da cidade de São Paulo fui aprovado para o cargo de Auxiliar de Serviços Gerais e fui convocado para apresentar os documentos e fazer o exame médico.

Fomos recebidos em uma enorme varanda da repartição pública e lá estava eu com minha barraca de camping nas costas esperando a minha vez de ser chamado para apresentar todos os documentos exigidos e eis que aproximou um senhor e nos apresentamos, ele chamava-se Paiva e foi logo perguntando:

O senhor é da onde senhor Luiz? Respondi calmamente: sou de Guarulhos, São Paulo e o Paiva disse que morava em Caraguatatuba, São Paulo e perguntou onde eu iria ficar após a contratação para exercer o cargo de ASG. Olhei alguns pássaros que pousavam nas árvores fazendo uma enorme algazarra e disse:

— Olha amigo, até agora não tenho nenhum lugar para hospedar-me e ficaria muito grato se você pudesse indicar um lugar neste paraíso e foi quando o Paiva disse:

— Senhor Luiz, onde moro tenho alguns chalés para alugar, caso o senhor se interesse está a sua disposição.

Esbocei um sorriso de agradecimento e disse que ficava muito longe da ilha e tentaria arrumar algum lugar para morar perto do local de trabalho.

Após uma longa e agradável conversa com meu mais novo amigo Paiva, sentei-me em uma mureta, acendi um cigarro e fiquei a imaginar:

“Poxa! este "cara" deve ser uma pessoa muito boa, pois, ofereceu um lugar para eu morar.”

No meio dos candidatos apareceu uma senhora muito simpática que era chefe de uma seção da repartição e disse para nós que necessitava de dois homens para trabalhar no setor de limpeza geral e meu amigo Paiva fez o convite para mim que aceitei de imediato, pois, imaginava que durante o nosso trabalho poderia nos conhecer melhor e esticar nossa conversa por longos dias de trabalho.

Logo no primeiro dia de trabalho percebi que o serviço seria um pouco diferente daquilo que eu imaginava e assim começamos a varrer lentamente a frente da repartição pública entre vários diálogos e a minha curiosidade em conhecer o local de trabalho, as novas colegas de trabalho, os chefes da repartição, olhava para o outro lado da rua e sentia que ali seria o meu lugar, sim eu estava morando em uma ilha, Ilhabela e faria de tudo para manter-me por um longo período naquele paraíso.

O tempo foi passando e conheci uma senhora muito falante e muito risonha e tornamos muito amigos e ela fazia questão de levar-me a todas as repartições para conhecer tudo e todos e lá ficava meu amigo Paiva a desempenhar o cargo com muita responsabilidade e quando eu chegava da minha visita o meu amigo Paiva perguntava:

— O senhor foi aonde senhor Luiz? Eu respondia.

— Ah! Fui conhecer um novo departamento com minha nova amiga.

— Mas o senhor esqueceu do serviço que teria que fazer e nossa supervisora veio perguntar do senhor e onde estava.

— Poxa! Paiva, desculpa, tinha até esquecido desta parte, mas prometo que não cometerei mais este ato e quando minha amiga me convidar para nova excursão pelos departamentos vou declinar.

O semblante do meu querido amigo Paiva mostrava muita irritação e eu ficava um pouco apreensivo, mas bastava minha nova amiga aparecer e fazer um novo convite para “os passeios” pela repartição lá estava eu saindo sorrateiramente deixando meu amigo Paiva sozinho com as tarefas da repartição.

Após algumas semanas conhecendo toda a repartição pública (resolvi) encarar as minhas tarefas com um pouco mais de responsabilidade o que deixou o meu amigo Paiva um pouco mais tranquilo.

Após alguns meses desempenhando minha nobre função pedi uma transferência para trabalhar em uma escola e quando me despedi do querido amigo Paiva ele disse:

Boa sorte senhor Luiz, seja muito feliz e vê se no novo local de trabalho consegue um pouco mais de pró-atividade, respirou fundo e retirou-se calado e lá fui eu trabalhar pesadamente na escola.

O tempo foi passando e às vezes nos encontrávamos e o meu querido amigo Paiva ficava relembrando o pouco tempo em que estivemos trabalhando entre muita prosa e sorrisos, ora alegres, ora irritados pelo meu desempenho quanto ao meu nobre cargo.


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

MI MI MI

 Tudo estava preparado para a mudança para o litoral norte do estado de São Paulo.

No sábado, dia quatro de setembro de 2021 colocamos todos os meus pertences no pequeno caminhão e pegamos a estrada com destino a Caraguatatuba. O trânsito estava um pouco lento pelo motivo de ser véspera de feriado prolongado.

Após três horas e meia de viagem estávamos na frente da casa onde eu ia morar. Bati no portão e após alguns minutos fui atendido pelo meu amigo que ainda estava terminando de limpar a casa e após alguns minutos ele disse que poderia colocar os móveis dentro da casa. O motorista estava com muita pressa e ajudou a colocar os móveis mais pesados dentro da casa e o restante ficou esparramado no quintal para serem colocados depois.

O motorista e o ajudante partiram após uma breve despedida e foi aí que o meu amigo disse:

— Mas não irão ajudar o senhor a colocar os seus pertences dentro da casa? Eu disse:

— Não, eles foram contratados apenas para transportar e não para carregar.

— Mas aí como vamos fazer? Os móveis irão ficar aí no quintal?

— Não irão, irei colocar os móveis aos poucos dentro da casa. Algum problema?

O meu amigo balançou a cabeça e saiu vagarosamente muito irritado.

Assim comecei a colocar os móveis vagarosamente para dentro da minha residência e após alguns minutos o meu amigo sensibilizado e vendo que se deixasse por minha conta iria demorar muito tempo começou a me ajudar e ainda chamou uma colega dele e após alguns minutos todos os meus móveis e pertences estavam dentro da minha nova casa.

Pensam que comecei a arrumar os móveis? Que nada, corri até a adega que ficava em frente da casa e comprei várias cervejas para comemorarmos e lá ficamos a conversar sob o olhar crítico do meu amigo.

Fiquei comemorando durante quatro dias e foi quando comecei vagarosamente a arrumar as “coisas” dentro da minha casa e meu amigo andando e arrumando os materiais dele que estavam no quintal e eu querendo conversar e foi quando ele disse um pouco irritado:

Senhor Luiz, o senhor está cheio de mi mi mi. Vamos conversando e trabalhando, conversando e trabalhando, o senhor entendeu?

Por um momento pensei que ele ia pedir a casa e segui um pouco contrariado arrumando vagarosamente minha casa e após alguns dias inventamos uma nova palavra “mimizar" que significa: ficar falando, falando e falando sem trabalhar, sem arrumar nada, apenas vagando em pensamentos.

Aprendi e nestes dias estou com menos mi mi mi e vagarosamente arrumando a minha casa.

Basta de mi mi mi...Vai falando e trabalhando, falando e trabalhando.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

GALINHAS



Hoje é muito fácil comprar galinhas e mais tranquilo ainda prepará-las, é só chegar no supermercado apontar as “penosas”, pesar e pronto. Algumas galinhas já vêm cortadas e temperadas o que facilita enormemente a vida de qualquer dona de casa.

Existiu uma época, isto lá pela década de 1960 que tal facilidade não existia, então a maioria das famílias, principalmente aquelas de origem do interior de qualquer cidade do nosso país comprava as galinhas vivas para serem abatidas em casa.

Eu com meus sete anos ficava horrorizado com tal atrocidade diante das queridas penosas indo para um enorme tacho com água escaldante para serem depenadas e decepadas e eu  diante de tanta crueldade ficava imaginando: “Como pôde! Mamãe é tão amável conosco e com todos e faz isto com as pobres galinhas”, mas quando as mesmas chegavam ao meu prato, abandonava toda a minha piedade pelas galinhas e compreendia perfeitamente a atrocidade.

Minha mãe Thereza e meu pai José sempre comprava as galinhas caipiras vivas para serem preparadas e servidas no nosso almoço dominical e meu sofrimento antecipado começava quando meu pai pedia para mamãe comprar as galinhas numa granja perto da nossa residência na rua Mangalô, no bairro Parada Inglesa em São Paulo.

No dia 23 de dezembro de 1962, meu pai pediu para minha mãe ir até à granja e comprar três galinhas caipiras bem gordas. Minha mãe resolveu levar-me até a granja e saímos de casa sob uma tênue garoa característica na cidade de São Paulo naquela época, chegamos na casa onde vendia galinhas, galos, patos e marrecos, e minha mãe escolheu cautelosamente três enormes galinhas caipiras e pediu para pesar para saber o preço. Era muito engraçado ver as galinhas querendo fugir do prato da balança do japonês granjeiro, esperneando e cacarejando e eu torcendo para as mesmas voarem e saírem da granja, ganharem a rua e posteriormente irem para bem longe daquele local, mas sempre acabavam sendo dominadas pelas mãos hábeis do japonês que abria o enorme viveiro onde estavam as galinhas e pedia para minha mãe escolher qual galinha iria levar para casa. Adorava os cacarejar das penosas e entre várias penas voando o granjeiro retirava as galinhas escolhidas, pesava e amarrava um pedaço de barbante espesso nas pernas das penosas escolhidas e entregava para minha mãe.

Tinha um plano maravilhoso para dar liberdade para as queridas galinhas e pedi para minha mãe quase que suplicando se podia levar as galinhas puxando pelo barbante e mamãe foi lacônica diante de um sonoro não. Insisti e ela concordou em deixar eu levar apenas uma galinha por um determinado trecho da calçada do bairro, o que já amenizou muito meu coração e encheu me de alegria. Iria soltar o barbante na primeira esquina e deixar a mesma fugir, este era meu plano para dar liberdade para aquela inofensiva galinha.

Era muito engraçado, eu puxando o barbante pelas ruas do bairro Parada Inglesa em São Paulo, sob os olhares curiosos das pessoas e a galinha não obedecendo aos meus comandos e mamãe sorrindo e pedindo que eu fosse atrás da galinha e a espantasse para que a mesma andasse, mas não poderia soltar a cordinha, senão a mesma iria para a rua. Tentei, foram várias tentativas em vão e a galinha repentinamente empacou, aí espantei a penosa e soltei o barbante, levei a mão a cabeça em sinal de espanto e medo e a mesma foi para o meio da rua onde um carro atropelou a penosa e matou parte do nosso almoço natalino.

Fiquei muito espantado e triste com o fim trágico dos meus planos e comecei a chorar e mamãe calmamente passou a mão na minha cabeça, sorriu e seguimos para casa e eu entre muitos soluços encobertos de tanta culpa pela morte da penosa.

Chegamos em casa e mamãe soltou as duas galinhas num cercadinho num pequeno quintal de terra onde não existia muro e ficava no alto, pois morávamos num sobrado que fazia divisa com uma enorme casa em construção.

As galinhas até pareciam felizes, pois, ciscavam para cá e para lá, e eu observando atentamente e mentalizando planos mirabolantes para libertar aquelas duas infelizes “penosas” que em breve iriam para o tacho fervente.

A ideia era a seguinte: iria pedir para minha mãe para dar milho para as galinhas e posteriormente iria espantá-las, assim evitaria o sofrimento cruel das galinhas. Cheguei com um ar de súplica para minha mãe e pedi se podia dar alguns milhos para as galinhas e a resposta foi um prudente e lacônico“Não”, insisti choramingando e ela disse:

— Não Luiz! Está chovendo e você pode cair lá para baixo. Insisti, quase que ajoelhando aos pés da minha mãe.

— Mas mamãe, deixa-me dar apenas alguns grãos de milho para as galinhas eu tomo muito cuidado!

— Não e pronto! Falou mamãe um tanto contrariada com aparência de brava e foi preparar o jantar. Fiquei alguns minutos com um punhado de grãos de milho na mão e resolvi contrariar minha mãe e entrei sorrateiramente no cercadinho para alimentar e soltar posteriormente as galinhas. Repentinamente escorreguei na terra molhada e fui parar lá embaixo sobre um monte de areia. Fiquei alguns minutos gemendo e gritando por socorro. Quando mamãe ouviu-me, desceu as escadas do sobrado onde morávamos correndo e chegou assustadíssima no local onde eu havia caído, levantou-me, deu uma sonora bronca e subi escorado nos braços da minha mãe gemendo de dor, com várias escoriações e um braço quebrado. Seguimos para o hospital onde radiografaram o meu braço, fizeram vários curativos e enquanto os enfermeiros engessavam o meu braço ficavam cacarejando e olhando e sorrindo para mim que além de muito triste ainda eu sentia a enorme culpa por ter contrariado minha mãe. Nunca devemos contrariar nossas mães. Mãe tem sempre razão, portando jamais contrarie sua mãe, nem que for por apenas algumas galinhas!








sexta-feira, 2 de julho de 2021

OS BAILINHOS DE GARAGEM DA DÉCADA DE 70


 Estávamos vivendo a melhor época que já existiu neste planeta, época dos anos dourados de 1970.

Em 1972 eu tinha 15 anos e já trabalhava com carteira profissional assinada em uma Companhia de Seguros na Praça Manoel da Nóbrega no centro da cidade de São Paulo como Office-boy.

A minha vida não era nada fácil, pois, trabalhava de dia e estudava a noite o curso Ginasial, (Hoje Ensino Fundamental) no Ginásio Estadual Cidade de Hiroshima em Itaquera.

Na minha classe existia uma linda garota que chamava Rosely e eu desde o primeiro dia de aula fiquei apaixonado pela Rosely. Rosely era uma garota jovem, tinha 15 anos, era magra, morena, cabelos negros compridos, estatura mediana e detentora de uns olhos verdes maravilhosos.

Meu grande problema naquela época é que existia vários pretendentes em querer namorar a Rosely e a disputa entre nós garotos daquela época era concorrida e fazíamos de tudo para estar ao lado da linda garota Rosely.

Naquela época existia um baile que fazíamos na garagem da nossa casa nos finais de semana, geralmente aos sábados à noite e convidávamos todas as lindas garotas que conhecíamos para participar.

Eu nunca tinha feito um “bailinho” na garagem coberta na minha casa, embora já tinha participado de vários outros bailinhos nas casas de alguns colegas. Os meus sentimentos pela Rosely cada dia que passava aumentava mais, resolvi fazer um bailinho na minha casa com o consentimento da minha mãe e do meu pai para tentar conseguir namorar a menina mais linda da escola.

Contei sobre o bailinho para o Zezinho que também estudava na mesma escola para ajudar-me a preparar o bailinho na minha casa e ele ficou muito feliz e prontificou a emprestar o som, alguns discos de vinil e algumas fitas cassete para fazermos o baile e ainda prontificou em providenciar alguns convites feitos em cartolina.

Na sexta-feira que antecedeu o bailinho o Zezinho levou seu lindo equipamento de som, vários discos de vinil e fitas cassete para minha casa e quando foi no sábado de manhã lá estávamos nós montando toda a estrutura do baile. Corri até a casa da dona Margarida, nossa vizinha e emprestei alguns bancos de madeira e algumas cadeiras, uma pequena mesa foi colocada estrategicamente num canto da garagem para colocarmos o aparelho de som, enormes caixas de som foram distribuídas pela garagem e uma enorme lona amarela foi colocada na frente da garagem para garantir um pouco nossa privacidade.

Quando pensei que tudo já estava preparado para o bailinho o Zezinho começou a mostrar todos os discos de vinil e as fitas cassete e pediu para eu ajudar a escolher as músicas que eu gostaria de ouvir durante o baile.

Deu um nó na minha garganta e fiquei um pouco envergonhado em dizer que de música pouco eu entendia e que eu poderia apenas apontar algumas músicas que gostaria de ouvir e dançar durante o bailinho.

Assim o Zezinho foi colocando os discos de vinil e as fitas cassete no som e fomos escolhendo as músicas, que eram uma mais linda que a outra e após escolhermos umas vinte músicas o Zezinho disse. Pronto, já está tudo anotado aqui no caderno, agora e só aguardar o bailinho começar e o restante deixa comigo.

Naquele dia tudo foi feito com muito esmero, desde a lavagem da garagem, alguns enfeites foram colocados nas rústicas paredes e às 16:00 tudo já estava preparado para receber as lindas garotas convidadas para o bailinho de garagem.

O Zezinho era perfeccionista e entendia muito de som e naquela época era ele que promovia todos os bailinhos de garagem da periferia sem remuneração alguma, pelo simples fato de ver um amigo ou amiga feliz lá estava o querido amigo Zezinho a ajudar e preparar o bailinho da garagem da minha casa.

Após tudo montado na garagem o Zezinho foi se arrumar para o baile e eu entrei em casa cantarolando uma música chamada Dancing Queen do conjunto Abba e minha mãe disse:

— Que felicidade é esta meu filho! Nunca te ví assim! E respondi:

— Sabe mãe hoje está sendo o dia mais feliz da minha vida, pois, irei começar a namorar a menina mais linda da minha escola! Minha mãe sorriu e disse:

Que lindo! Fico feliz por você e quero logo conhecer minha nora e ver se ela é realmente tão bonita como você diz.

Tomei um demorado banho, passei um desodorante comprado para épocas especiais e fui me trajar. Coloquei calças boca de sino azul listrada de branco, uma camisa gola Olímpica branca com o meu nome bordado na parte da frente em letras pequenas, calcei um sapato com salto carrapeta bem lustrado e coloquei um cinto de couro com uma fivela enorme, passei brilhantina no cabelo, penteei cuidadosamente repartindo o mesmo ao meio. Pronto, eu já estava preparado para receber a minha princesa.

Quando se aproximou das 18:00 o Zezinho chegou e começou a testar o som e as primeiras pessoas começaram a chegar e eu dava Boas-vindas a todos que chegavam, entravam e ficavam quietinhos sentados nos bancos de madeira conversando baixinho para não atrapalhar os ouvidos afinadíssimos do nosso DJ Zezinho.

Eu estava ao lado do Zezinho apreciando a habilidade do mesmo com a preparação do som e de olho nas pessoas que iam chegando e foi quando o Zezinho disse:

Luiz, olha para trás e vê quem está chegando. Olhei e meu coração disparou. Era a Rosely que tinha chegado trajando um lindo vestido amarelo e uma sandália prata, cabelos soltos e exalando um perfume de um odor inefável.

Carinhosamente dei um beijo nas mãos da Rosely e ela disse:

Nossa, quanta cordialidade! Obrigado Luiz. Ela entrou e ficou conversando com uma colega de classe e após alguns minutos o bailinho começou com uma música chamada: Rock and Roll Lullaby do cantor BJ Thomas e eu rapidamente convidei a Rosely para dançar aquela música e para a minha surpresa a mesma aceitou.

O baile estava muito animado e eu já tinha dançado várias músicas com as colegas de classe e vizinhas, mas meus olhos sempre estavam direcionados para a querida Rosely.

Sentei-me sutilmente ao lado da Rosely e entre uma conversa e outra eu disse:

Rosely, você aceita comprometer-se comigo? Ela deu uma sonora gargalhada e disse: O que significa isto Luiz?

Muito envergonhado falei baixinho: significa namorar. O que diz?

Ela ficou pensando e colocou as mãos no queixo e disse: necessito pensar Luiz, afinal são tantos pretendentes que fico até envergonhada. Posso dar a resposta depois?

Um pouco triste disse que sim e o baile terminou e cada um foi para sua casa. Passados alguns dias quando cheguei na sala de aula a Rosely disse que necessitava falar comigo. Ai pensei, pronto ela vai dizer que não quer namorar comigo.

Ela convidou-me para ir até o bebedouro da escola beber água com ela e eu a acompanhei e fiquei aguardando um Não. Abaixou-se para beber água e quando ergueu a cabeça para engolir a água, ficou me olhando, olhando e inesperadamente deu um beijo na minha boca. Pronto o "sim" já estava garantido. Namoramos muito tempo até que em um determinado dia ela se apaixonou pelo Zezinho e fui preparar mais um bailinho para conseguir outra namorada. O difícil era quando eu ia a um bailinho e encontrava o Zezinho  animando o bailinho ao lado da linda Rosely. Até hoje quando recordo da minha musa Rosely, várias músicas daquela época ecoam na minha mente e fico bailando mentalmente a sorrir dos maravilhosos momentos vividos durante os bailinhos de garagem na década de 70.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

UMA CAMINHONEIRA EM BUSCA DO PAI



Desde criança percebi a falta de carinho de um pai. Logo quando aprendi a falar, perguntava para minha mãe por onde andava meu pai e ela afagava meus cabelos e dizia carinhosamente que ele estava viajando, dirigindo enormes caminhões por este mundão afora.

O tempo foi passando e sempre que eu perguntava do meu pai para minha mãe ela dizia que ele ainda não tinha voltado da viagem e eu tristemente ficava pensando: nossa, a viagem que meu pai está fazendo deve ser muito longe, pois, ele nunca chega.

Comecei a cursar o primeiro ano do Ensino Fundamental e tudo corria muito bem, afinal eu era uma ótima aluna e conseguia aprender com muita facilidade e foi quando no dia dos pais resolveram fazer uma homenagem aos nossos pais e lá estava eu querendo saber do meu pai, pois, haveria a necessidade de o mesmo estar presente na festinha da escola.

Foi quando minha mãe disse para eu esperar mais um pouquinho e naquele dia um tio iria representar o meu pai na festinha. Fiquei muito triste e insistia em querer saber por onde andava meu pai.

O tempo foi passando e nada do meu pai aparecer e eu já estava quase conformada com a ausência do meu pai caminhoneiro que nunca voltava e assim a vida ia seguindo e quantas vezes deixei rolar algumas lágrimas em querer conhecer meu pai “sumido”.

Quando existia uma reunião em nossa família e descontraidamente meu padrinho Manoel perguntava o que eu queria ser quando crescesse, meus olhos brilhavam e aquela vontade enorme de conhecer meu pai caminhoneiro dava a resposta. Quero ser uma caminhoneira igual meu pai, dirigir um enorme caminhão por estas estradas do nosso querido Brasil e tentar encontrar meu pai em alguma parada de caminhoneiros.

Meu tio Manoel ria, afagava meus cabelos e dizia:

— Ah! Querida, vida de caminhoneiro é difícil! Mesmo assim você quer ser caminhoneira? eu respondia sem nenhuma dúvida:

— Quero sim padrinho, diz para mim como é a vida de um caminhoneiro.

— Eu nunca fui caminhoneiro, quem era caminhoneiro era seu pai José, ele sabia muito sobre esta profissão.

— Mas eu nem conheci meu pai até agora, mas irei encontrar quando estiver na estrada e ainda vou perguntar para todos os caminhoneiros onde está meu pai José.

Os olhos do meu padrinho lacrimejava e ele falava: vai sim querida, torço muito para você ser uma excelente caminhoneira e dirigir tão bem como seu pai José dirige e com certeza você o encontrará em algum lugar deste nosso querido país.

O tempo foi passando e quando fiz dezoito anos fui me matricular em uma autoescola no bairro da Penha, em São Paulo para poder adquirir minha carta de motorista e poder dirigir um caminhão. Foi então que eu soube que para dirigir um caminhão existia a necessidade de adquirir uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação) categoria E.

Disse ao instrutor de autoescola que queria dirigir carretas e contei detalhadamente o porquê daquele sonho e o instrutor prontificou-se a ajudar-me a habilitar-me para dirigir um caminhão.

Antes, bem antes de matricular-me na escola já sabia dirigir carros pequenos graças ao meu tio Manoel que me ensinou e quando entrei na autoescola foi somente para fazer a prova escrita e a prova prática e após alguns meses eu já estava com minha carta de motorista na mão e pronta para começar a trilhar meu sonho.

Comecei dirigindo carros pequenos e adquiri um lindo fusca vermelho que comprei de um amigo que morava no Jardim Nordeste e fazia questão de transportar todos da minha família para ganhar experiência pelas ruas da cidade de São Paulo.

Após alguns meses dirigindo com muita atenção e sempre que eu entrava no fusca e colocava a chave na ignição para poder dar a partida no fusca meus olhos brilhavam e eu ficava pensando. Um dia ainda será de um caminhão! E seguia para o destino sempre cheio de alegria e imaginando  estar dirigindo um caminhão.

Após alguns meses dirigindo fui novamente a autoescola e fiz novas provas para adquirir a CNH para dirigir uma Van Escolar e assim comecei dirigindo para um amigo uma Van escolar. A responsabilidade era enorme em ver todas aquelas crianças com muita alegria indo para a escola e voltando sob a minha responsabilidade entre as ruas dos bairros da zona Leste da cidade de São Paulo e novamente ficava imaginando eu na estrada com meu possante caminhão.

Quando completei vinte e quatro anos consegui adquirir a CNH que me habilitava a dirigir um caminhão e, naquele momento  foi a grande dificuldade: encontrar uma transportadora que admitisse uma mocinha de apenas vinte e quatro anos dirigindo um caminhão.

Foram vários currículos entregues em várias transportadoras e eis que em um determinado dia uma transportadora do bairro da Vila Guilherme em São Paulo me chamou para uma entrevista.

Naquela noite não consegui dormir tamanha era a minha ansiedade em poder dirigir um caminhão, afinal já tinha dirigido alguns caminhões, mas não dirigindo em estradas.

Fui recebido pelo chefe de transportes e após uma longa entrevista e eu detalhar o porquê de eu querer ser uma caminhoneira ele ficou muito sensibilizado e resolveu dar-me uma oportunidade.

Comecei dirigindo pela cidade de São Paulo e grande São Paulo fazendo entregas de todo o tipo de mercadorias sempre acompanhado de um ajudante e assim após alguns meses o chefe de transportes me chamou na sala dele e disse: tenho boas referências nestes meses em que você está trabalhando conosco e sendo observada por nossos motoristas e tenho uma nova rota para você.

E foi quando o chefe de transportes propôs eu fazer a rota São Paulo-Belo Horizonte e perguntou se eu aceitava e eu imediatamente disse que sim e assim foi marcada a minha primeira viagem como caminhoneira pela Rodovia Fernão Dias até a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Bem cedinho eu já estava na transportadora ao lado de um mecânico que passou várias informações de como proceder caso algo acontecesse com o caminhão e ainda recebi várias orientações de um experiente caminhoneiro que tanto conhecia este trajeto.

Quando subi na boleia pela primeira vez para dar a partida no lindo caminhão ergui as mãos para o céu e agradeci a Deus entre algumas lágrimas que rolavam pelo meu rosto.

Cristóvão era o nome do motorista que ia me acompanhar na minha primeira viagem e assim saímos de São Paulo com destino a Belo Horizonte na manhã seguinte o motorista acompanhante dava as coordenadas das ruas por onde eu deveria passar até eu entrar na Rodovia Fernão Dias e seguir sempre em frente.

Cristóvão ia me orientando onde deveríamos parar para se alimentar e após três paradas em postos de gasolina e lanchonetes da rodovia Fernão Dias estávamos na querida Belo Horizonte.

Foram nove horas de estrada e eu estava muito feliz e quando chegamos na transportadora da capital de Minas e eu saí da boleia todos os motoristas da transportadora ficaram surpresos com a minha presença e com a minha juventude.

O tempo foi passando e as viagens foram acontecendo e foi quando conheci Paulo, um caminhoneiro um pouco mais velho do que eu e começamos a namorar. Eu continuava a fazer a viagem para Belo Horizonte e Paulo fazia a viagem de São Paulo para Salvador e quando nos encontrávamos nós namorávamos um pouco.

Depois de alguns meses namorando o Paulo ele sugeriu se poderíamos casar e eu imediatamente disse que não e disse que só aceitaria o casamento se ele fosse solicitar o casamento junto aos meus pais. Paulo sorriu muito e disse: mas Soraia, então não vamos nos casar nunca, pois, você não sabe onde está seu pai! Gargalhei muito e disse: Pois vamos procurar meu pai por este mundão afora e assim adiamos um pouco mais nosso casamento.

Após dois anos de namoro resolvemos casar e levei Paulo para conhecer minha família e solicitamos junto a empresa, férias conjunta, eu e o Paulo para realizarmos o nosso casamento. Convidamos todos os caminhoneiros e o proprietário da transportadora que nos presenteou com uma viagem após o casamento e assim aconteceu o nosso casamento que foi muito lindo.

O Paulo estava me esperando na igreja para casarmos e após longos minutos de espera, uma enorme carreta estacionou na frente da igreja e desci da boleia com muito cuidado para não danificar meu lindo vestido de noiva. Naquele exato momento em que eu estava entrando na igreja novamente senti a falta do meu pai José para entrar comigo na igreja, algumas lágrimas surgiram, sorri e entrei na igreja com muita alegria.

Paulo não se conteve e deixou as lágrimas invadirem o seu rosto. O casamento foi realizado sob os olhares de velhos e conhecidos caminhoneiros e das nossas famílias e após o casamento quando saímos da igreja fomos abraçados pelos nossos amigos caminhoneiros e nossos parentes entre alguns estampidos de fogos de artifício e o som de várias buzinas dos caminhões que estavam estacionados em frente e ao redor da igreja.

A festa foi totalmente patrocinada pelo proprietário da transportadora e assim que terminou a festa fomos descansar para no outro dia iniciar nossa viagem para Salvador, Bahia em lua de mel.

A rota São Paulo Salvador Paulo conhecia muito bem, afinal aquela era a sua rota e assim fomos nos revezando ao volante e paramos várias vezes ao longo das estradas.

Os filhos nasceram e ficavam com minha mãe quando estávamos viajando e foi quando um dia Paulo voltou de viagem e eu estava em casa com as crianças e corri para abraça-lo e disse:

Paulo, tenho uma ótima novidade: conheci uma mulher que pode nos ajudar a encontrar meu pai José! Paulo ficou super feliz e decidimos ir até o endereço citado pela mulher para tentar localizar meu pai.

Chegamos no local indicado, paramos o caminhão na estreita rua e batemos palmas e gritei o nome do meu Pai. Apareceu um senhor chamado Domingos e perguntou o que queríamos com o José. Expliquei que eu estava procurando meu pai e após algumas informações o Domingos me deu a triste notícia que meu pai tinha falecido e disse que tinha casado com outra mulher e gerado vários filhos e perguntou se eu gostaria de conhecê-los e eu imediatamente disse que sim.

Marcamos um encontro com os filhos do meu pai com a sua esposa e conseguimos reunir toda a família e consegui ganhar mais uma família linda. Parei de dirigir caminhão e o Paulo ainda continua na estrada até hoje.

Todo o meu esforço em encontrar meu pai não foi em vão, afinal encontrei o meu querido esposo Paulo e hoje temos três filhos lindos.

sábado, 26 de junho de 2021

MEU QUERIDO SOBRINHO EVANDRO


 Eu andava pela vida sempre dormindo aqui e acolá e existiu um tempo em que morei na casa da minha estimada irmã Sônia que jamais negou um “pouso” ou uma breve estadia até eu arrumar outro canto para esticar meu esquelético corpo carcomido pelo álcool.

Num determinado sábado eu estava sentado na frente da casa da minha irmã observando a tagarelice dos frenéticos feirantes e eis que surge meu querido sobrinho Evandro e fez um convite para mim:

— E aí tio, o que está fazendo agora? E respondi um pouco envergonhado.

- Ah! Baixinho, agora estou pensando na vida e tentando achar uma solução para esta minha vida de nômade.

— Que isto tio, tenho um convite para fazer para o senhor.

— Qual é o próximo negócio, o próximo empreendimento que iremos fazer?

— Nada tio, quero convidar o senhor para ir lavar o carro comigo.

— Mas...baixinho, onde fica este lava-rápido, muito longe?

— Nada tio é aqui mesmo na Estrada da Conceição, a Delicia comprou um lava-rápido sabia?

— Não, não sabia e quem é a delícia?

— Ah! Tio chega de perguntas e entra logo aqui no carro e vou apresentar a Delícia para o senhor.

Entrei no carro e passados alguns minutos já estávamos no lava-rápido da Delícia, subimos alguns degraus e lá estávamos em um lindo bar, tipo mezanino.

Quando a Delícia viu o baixinho sorriu e disse:

Senta queridos para descansar um pouco, vai querer beber alguma coisa?

O Evandro pediu uma cerveja e uma porção de calabresa acebolada e começou umas das mais deliciosas prosas que tivemos em toda nossa vida.

— E aí baixinho lembra quando você era pequenininho e eu trabalhava na Elebra e fazíamos churrasco em plena segunda-feira?

Ah! Se não lembro tio, claro que lembro, o senhor ganhava bem né?

— Imagina baixinho, ganhava razoavelmente para vez ou outra fazer um churrasquinho sob a reprovação da minha mãe que não admitia um churrasco numa segunda-feira à noite e eu adorava e você então vibrava… lembra?

— Claro tio que lembro tio.

O Evandro levantou a mão e pediu mais uma cerveja de garrafa para a Delícia e eu pensei: puts! É hoje que vou dormir na rua, pois, minha irmã proibiu eu de beber enquanto estivesse na casa onde ela morava, mas..deixa rolar para ver no que vai dar.

A Delícia colocou delicadamente a cerveja sobre a mesa, encheu nossos copos e partiu para preparar uma nova porção para degustarmos, desta vez era mandioca frita.

E ai tio, lembra quando fomos vender cafezinho e quibe na feira de sábado?

- Ah!lembro sim (risos).. Eu muito “zoião” saí com os quibes e você com o café e você vendeu tudo e eu apenas alguns quibes.

— Mas foi muito divertido ver nossa agonia em acordar de madrugada e ainda minha mãe me ajudou, lembra?

— Sim, sim, se não lembro, mas vamos pular esta parte vamos para a próxima.

Um sorriso enorme e debochado do baixinho fez se presente no bar da delícia, as cervejas e porções foram sendo consumidas e as lindas lembranças afloravam em nossa mente e fomos para mais uma lembrança.

— E ai tio, lembra quando fomos vender rodos e vassouras pelas ruas da Vila Maria, Vila Sabrina?

— Sim, se não lembro, você queria ir ao ratinho me denunciar porque queria o dinheiro das vendas dos rodos e das vassouras e acabou vendendo todos os rodos e vassouras numa comunidade. Lembra?

Outro sorriso fez-se largo no rosto do querido sobrinho e assim fomos lembrando de todas as nossas aventuras de negociantes regadas de muitas cervejas e foi quando o filho da Delícia veio dizer que o carro já estava lavado e aspirado, pronto para entrega.

O baixinho riu e disse:

— Ah!lava de novo, pois o papo com o tio Luiz está tão bom.

O filho da Delícia saiu sorrindo sem entender nada e foi lavar outro carro.

Depois de quase todos os casos vividos por nós serem lembrados nos abraçamos fraternalmente e o baixinho deu um beijo no meu rosto e disse:

- Gosto muito de você velho, se cuida viu e vamos embora encarar a Dona Sônia que deve estar brava, muito brava.

Desci as escadas da casa da minha irmã em passos trôpegos e sentei-me pesadamente em um velho sofá e fiquei imaginando o tanto quanto aquele meu querido sobrinho era gente fina.

Adormeci no sofá, acordei de madrugada balbuciando:

E ai baixinho vamos relembrar mais alguns “causos”?

Um encontro maravilhoso que nos proporcionou um grande e raro momento vividos nesta vida. Obrigado querido Evandro e descanse em paz que em breve daremos continuação a nossa prosa.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

TIA NINA NO CÉU


 O vírus covid-19 não dava trégua e continuava a fazer milhares de vítimas ao redor do mundo, motivo pelo qual alguns que passaram por aqui e contraíram o mesmo, depois de tanta luta em meio ao caos instalado em quase todos os hospitais deste planeta sucumbiam e lá estavam alguns poucos selecionados pela conduta e por merecimento por fazer o bem e esparramar gestos de generosidades entre nós aguardando na porta do céu qual seria o destino a ser tomado.

No dia 2 de maio de 2021 às 9:30, tia Nina chegou no céu e ficou espantada com tanta gente aguardando a vez de ser chamada para saber o que aconteceria a partir daquele momento.

Aquele lugar bonito e exalando perfume agradava muito tia Nina que assim que chegou no céu ficou aguardando calmamente a hora e a vez de ser chamada através de um enorme alto-falante instalado em uma árvore que ficava tocando lindas músicas orquestradas com o som quase inaudível.

Olhou de soslaio ao redor para ver se conhecia alguém para poder conversar um pouco enquanto aguardava o Pedrão chamar as pessoas e repentinamente chegou uma senhora e se apresentou dizendo que não sabia como tinha chegado até aquele lugar e perguntou para tia Nina:

— Você sabe onde estamos? O que estamos fazendo por aqui? Tia Nina respondeu:

— Não tenho a mínima ideia onde estamos, mas muito me agrada este ambiente, muito florido!

O alto-falante começou a chamar as pessoas para se apresentar na porta do céu para conversar com o porteiro Pedro e tia Nina pediu silêncio para a nova amiga ficar quieta para escutar o nome que seria anunciado pelo alto-falante.

Várias pessoas foram chamadas e após alguns minutos o alto-falante chamou tia Nina que apressadamente desvencilhou daquele aglomerado de pessoas e se apresentou sorrindo ao porteiro que falou:

Por gentileza dona Nina acompanha-me, pois existe um senhor que gostaria de conversar com a senhora.

Caminharam por enormes árvores e o porteiro apresentou um senhor barbudo para tia Nina e saiu apressado para atender o restante do pessoal.

Tia Nina olhou fixamente para aquele homem barbudo e sentiu que o conhecia, mas não lembrava de onde e foi quando ela disse:

Oi! Bom dia, meu nome é Benvinda, mas me chamavam de Nina, quem é o senhor?

Benvinda? Que nome bonito! Então seja muito bem-vinda entre nós!

O senhor sorriu angelicalmente e disse com voz baixa: Meu nome é Jesus.

Tia Nina deixou rolar algumas lágrimas e prosseguiu no questionamento:

Onde estou, o que estou fazendo aqui? Jesus respondeu: você está no céu e está aqui por merecimento, por ter sido uma pessoa muito boa na terra, por ajudar todos e por amar tanto sua linda família.

Tia nina se benzeu e perguntou: gosto muito de conversar, vou poder conversar aqui no céu?

Jesus sorriu e disse: sim vai poder conversar bastante e o melhor com pessoas que você conheceu na terra e está presente entre nós. Tia Nina já estava aliviada e muito contente em poder rever os parentes que tinham partido fazia anos e prosseguiu com o questionamento:

Gosto de cozinhar e adoro plantas, vou poder cozinhar por aqui e cuidar de algumas plantas?

Jesus respondeu: aqui nós nos alimentamos com a paz espiritual e quanto a cuidar das plantas temos todas as espécies e são de todos.

Levantaram-se lentamente daquele enorme tronco de madeira e foram caminhando entre lindas árvores e foi quando Jesus apontou várias pessoas e perguntou?

Conhece alguém deste pessoal? Um enorme sorriso da tia Nina esparramou-se pelo céu ao ver todos os parentes e pessoas conhecidas que passaram pela terra vir ao seu encontro.

Vários abraços e beijos entre todos se fizeram presentes naquele momento e tia Nina não se continha de tanta felicidade e foi quando surgiu entre o pessoal o João, esposo da tia Nina e disse:

Nina, que saudades de você! Entre abraços, beijos e várias lágrimas ficaram alguns minutos abraçados entre aplausos dos presentes. Tia Nina foi abraçando todos, um por um e assim permaneceu noite adentro entre vários sorrisos esparramados pelo céu e várias conversas sendo colocadas em dia.

TIA NINA


 ...Bati palmas no portão, alguns cachorros vieram me recepcionar e em seguida apareceu a querida tia Nina com um sorriso maravilhoso estampado no rosto. Tia Nina sempre foi e ainda é muito risonha e quando recebia visitas em sua casa ficava muito feliz.Caminhou lentamente até o portão, abriu-o e deu-me um carinhoso abraço e desejou-me uma boa estadia na sua residência.Pedi a benção e beijei a mão da tia Nina  que imediatamente começou a perguntar sobre meus pais, minhas irmãs, se todos estavam bem de saúde. Carregamos a pequena mala até um quarto e ela apresentou minha cama, o guarda-roupa e disse que eu iria dividir o mesmo com dois primos: O Edson e o Evanildo. Eu já tinha conversado com tia Nina sobre o meu objetivo em morar em Jacareí, pois ficava perto de São José dos Campos onde estava a ETEP, escola onde eu iria estudar.O tempo foi passando e tia Nina sempre alegre nos acolhia na sua residência e no seu coração. Comecei a trabalhar em uma construtora para poder manter me e meu único objetivo era estudar muito para tornar-me engenheiro e assim o tempo foi passando e minha juventude na casa da tia Nina foi maravilhosa. Sonhos e realidades misturavam-se cotidianamente e minha mente vagava entre o presente e um futuro cheio de alegria ao lado de pessoas maravilhosas. Como eu trabalhava perto da casa da tia Nina todos os dias eu ia almoçar em casa e entre o embarcar no velho ônibus preto do DNER e descer na Avenida Siqueira Campos e subir a rua Santa Cecília até o bairro do Avareí avistava muitos conhecidos. Na hora do almoço ligava meu radinho de pilha Philco e ficava ouvindo um programa na rádio Bandeirantes com o comunicador Hélio Ribeiro que traduzia lindas músicas que tanto acalentava meu coração.Nos finais de semana sempre acontecia partidas de ping-pong e entre um café e outro ainda sobrava tempo para paquerar lindas meninas que frequentava a casa da tia Nina.Fiquei hospedado na casa da tia Nina durante aproximadamente uns dois anos e foi muito gratificante e prazeroso aquele tempo que ainda trago na minha memória época de plena felicidade..Muito obrigado tia Nina por poder proporcionar época tão linda na minha vida.

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...