quarta-feira, 15 de julho de 2020

VIAGEM DE TREM

  Se existiu outra vida, outra encarnação, posso garantir com toda convicção que eu fui maquinista de trem e morava na praia.
         A minha paixão por trens é inefável, talvez pelo barulho da locomotiva, pelo som maravilhoso das rodas dos trens em contato com os trilhos e aquele cheiro agradabilíssimo de querosene misturado com óleo e o tradicional apito que faz pular nossos corações de alegria.
         Decidimos fazer uma viagem de São Paulo até Santos e naquele domingo ensolarado lá estávamos nós com nossas mochilas repletas de guloseimas, binóculos  e uma filmadora na Estação de trem Júlio Prestes aguardando a chegada da locomotiva que iria nos levar a um dos passeios mais lindo de toda a minha vida.
         Os bilhetes da viagem já estavam comprados com antecedência e ao chegar a Estação Júlio Prestes notamos ao descer as escadas muita alegria entre o pessoal que iria viajar para Santos.
         Chegamos e sentamos num enorme banco de madeira e ficamos aguardando o trem com muita ansiedade e muito feliz e não demorou muito ouvimos um apito e o trem foi chegando mansamente na estação, a locomotiva encostou-se à plataforma e o barulho das rodas em contato com os trilhos, o cheiro forte de querosene misturavam com nossa felicidade.
         As portas dos vagões foram abertas e entramos calmamente a procura dos nossos lugares e notamos que o maquinista estava andando pelos vagões dando-nos boas vindas e dizendo que a viagem demoraria aproximadamente cinco horas, que existia um vagão restaurante e que aproveitássemos todas as paisagens encantadoras que iríamos ver ao longo da viagem.
         As portas dos vagões fecharam e o trem foi saindo vagarosamente da estação emitindo vários apitos e nossos corações repletos de alegria abriam sorrisos de felicidade.
         As primeiras paisagens não eram lá muito encantadoras aos nossos olhares, pois estávamos saindo da grande metrópole e o que víamos eram prédios, carros, rodovias e o mais encantador era o som constante e repetitivo da locomotiva.
         Como a viagem era longa resolvi abrir um pequeno livro para ler e passei os olhos por algumas páginas e constantemente era convocado para ver algum detalhe que passava pela janela do vagão e finalmente abandonei o livro numa das mochilas e comecei a observar os encantos das primeiras paisagens que surgiam, pois estávamos começando a descer a serra e o trem foi diminuindo a velocidade e parou para serem colocados alguns cabos de aço. Ficamos um pouco apreensivos, pois o trem desceria através de alguns cabos de aço, que loucura!
         Novamente alguns apitos foram ouvidos  e o trem estava em movimento e descia a serra vagarosamente e as primeiras florestas da mata atlântica começaram a aparecer entre lindas flores, cachoeiras e voos maravilhosos de grandes pássaros.
         Comecei a filmar a linda paisagem e surpreendentemente fui convidado pela patroa a beber uma cerveja bem gelada no vagão refeitório e não recusei e lá fomos nós degustar a bebida.
         Na volta do vagão refeitório sentimos que o trem estava começando a parar novamente e finalmente parou bem em frente a uma linda cachoeira que descia do alto de um morro e ficou vários minutos parado para que nós apreciássemos aquela linda paisagem.
         Alguns passageiros de outro vagão apareceram no vagão onde estávamos e ofereceram alguns pedaços de bolo para adoçar mais ainda nossa magnífica viagem e a viagem foi seguindo e eu não cabia no meio de tanta felicidade.
         Os binóculos eram passados de mão em mão e já conseguíamos avistar bem ao longe o mar e a viagem estava terminando e vagarosamente o trem foi encostando na estação e apitando e nossas mochilas foram retiradas do bagageiro e saímos do vagão sobre grandes suspiros de felicidade e sempre olhando para trás uma máquina, apenas um trem capaz de proporcionar tanta alegria para nós simples mortais da grande metrópole.

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...