sábado, 26 de junho de 2021

MEU QUERIDO SOBRINHO EVANDRO


 Eu andava pela vida sempre dormindo aqui e acolá e existiu um tempo em que morei na casa da minha estimada irmã Sônia que jamais negou um “pouso” ou uma breve estadia até eu arrumar outro canto para esticar meu esquelético corpo carcomido pelo álcool.

Num determinado sábado eu estava sentado na frente da casa da minha irmã observando a tagarelice dos frenéticos feirantes e eis que surge meu querido sobrinho Evandro e fez um convite para mim:

— E aí tio, o que está fazendo agora? E respondi um pouco envergonhado.

- Ah! Baixinho, agora estou pensando na vida e tentando achar uma solução para esta minha vida de nômade.

— Que isto tio, tenho um convite para fazer para o senhor.

— Qual é o próximo negócio, o próximo empreendimento que iremos fazer?

— Nada tio, quero convidar o senhor para ir lavar o carro comigo.

— Mas...baixinho, onde fica este lava-rápido, muito longe?

— Nada tio é aqui mesmo na Estrada da Conceição, a Delicia comprou um lava-rápido sabia?

— Não, não sabia e quem é a delícia?

— Ah! Tio chega de perguntas e entra logo aqui no carro e vou apresentar a Delícia para o senhor.

Entrei no carro e passados alguns minutos já estávamos no lava-rápido da Delícia, subimos alguns degraus e lá estávamos em um lindo bar, tipo mezanino.

Quando a Delícia viu o baixinho sorriu e disse:

Senta queridos para descansar um pouco, vai querer beber alguma coisa?

O Evandro pediu uma cerveja e uma porção de calabresa acebolada e começou umas das mais deliciosas prosas que tivemos em toda nossa vida.

— E aí baixinho lembra quando você era pequenininho e eu trabalhava na Elebra e fazíamos churrasco em plena segunda-feira?

Ah! Se não lembro tio, claro que lembro, o senhor ganhava bem né?

— Imagina baixinho, ganhava razoavelmente para vez ou outra fazer um churrasquinho sob a reprovação da minha mãe que não admitia um churrasco numa segunda-feira à noite e eu adorava e você então vibrava… lembra?

— Claro tio que lembro tio.

O Evandro levantou a mão e pediu mais uma cerveja de garrafa para a Delícia e eu pensei: puts! É hoje que vou dormir na rua, pois, minha irmã proibiu eu de beber enquanto estivesse na casa onde ela morava, mas..deixa rolar para ver no que vai dar.

A Delícia colocou delicadamente a cerveja sobre a mesa, encheu nossos copos e partiu para preparar uma nova porção para degustarmos, desta vez era mandioca frita.

E ai tio, lembra quando fomos vender cafezinho e quibe na feira de sábado?

- Ah!lembro sim (risos).. Eu muito “zoião” saí com os quibes e você com o café e você vendeu tudo e eu apenas alguns quibes.

— Mas foi muito divertido ver nossa agonia em acordar de madrugada e ainda minha mãe me ajudou, lembra?

— Sim, sim, se não lembro, mas vamos pular esta parte vamos para a próxima.

Um sorriso enorme e debochado do baixinho fez se presente no bar da delícia, as cervejas e porções foram sendo consumidas e as lindas lembranças afloravam em nossa mente e fomos para mais uma lembrança.

— E ai tio, lembra quando fomos vender rodos e vassouras pelas ruas da Vila Maria, Vila Sabrina?

— Sim, se não lembro, você queria ir ao ratinho me denunciar porque queria o dinheiro das vendas dos rodos e das vassouras e acabou vendendo todos os rodos e vassouras numa comunidade. Lembra?

Outro sorriso fez-se largo no rosto do querido sobrinho e assim fomos lembrando de todas as nossas aventuras de negociantes regadas de muitas cervejas e foi quando o filho da Delícia veio dizer que o carro já estava lavado e aspirado, pronto para entrega.

O baixinho riu e disse:

— Ah!lava de novo, pois o papo com o tio Luiz está tão bom.

O filho da Delícia saiu sorrindo sem entender nada e foi lavar outro carro.

Depois de quase todos os casos vividos por nós serem lembrados nos abraçamos fraternalmente e o baixinho deu um beijo no meu rosto e disse:

- Gosto muito de você velho, se cuida viu e vamos embora encarar a Dona Sônia que deve estar brava, muito brava.

Desci as escadas da casa da minha irmã em passos trôpegos e sentei-me pesadamente em um velho sofá e fiquei imaginando o tanto quanto aquele meu querido sobrinho era gente fina.

Adormeci no sofá, acordei de madrugada balbuciando:

E ai baixinho vamos relembrar mais alguns “causos”?

Um encontro maravilhoso que nos proporcionou um grande e raro momento vividos nesta vida. Obrigado querido Evandro e descanse em paz que em breve daremos continuação a nossa prosa.

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...