Num determinado sábado eu estava sentado na frente da casa da minha irmã observando a tagarelice dos frenéticos feirantes e eis que surge meu querido sobrinho Evandro e fez um convite para mim:
— E aí tio, o que está fazendo agora? E respondi um pouco envergonhado.
- Ah! Baixinho, agora estou pensando na vida e tentando achar uma solução para esta minha vida de nômade.
— Que isto tio, tenho um convite para fazer para o senhor.
— Qual é o próximo negócio, o próximo empreendimento que iremos fazer?
— Nada tio, quero convidar o senhor para ir lavar o carro comigo.
— Mas...baixinho, onde fica este lava-rápido, muito longe?
— Nada tio é aqui mesmo na Estrada da Conceição, a Delicia comprou um lava-rápido sabia?
— Não, não sabia e quem é a delícia?
— Ah! Tio chega de perguntas e entra logo aqui no carro e vou apresentar a Delícia para o senhor.
Entrei no carro e passados alguns minutos já estávamos no lava-rápido da Delícia, subimos alguns degraus e lá estávamos em um lindo bar, tipo mezanino.
Quando a Delícia viu o baixinho sorriu e disse:
Senta queridos para descansar um pouco, vai querer beber alguma coisa?
O Evandro pediu uma cerveja e uma porção de calabresa acebolada e começou umas das mais deliciosas prosas que tivemos em toda nossa vida.
— E aí baixinho lembra quando você era pequenininho e eu trabalhava na Elebra e fazíamos churrasco em plena segunda-feira?
Ah! Se não lembro tio, claro que lembro, o senhor ganhava bem né?
— Imagina baixinho, ganhava razoavelmente para vez ou outra fazer um churrasquinho sob a reprovação da minha mãe que não admitia um churrasco numa segunda-feira à noite e eu adorava e você então vibrava… lembra?
— Claro tio que lembro tio.
O Evandro levantou a mão e pediu mais uma cerveja de garrafa para a Delícia e eu pensei: puts! É hoje que vou dormir na rua, pois, minha irmã proibiu eu de beber enquanto estivesse na casa onde ela morava, mas..deixa rolar para ver no que vai dar.
A Delícia colocou delicadamente a cerveja sobre a mesa, encheu nossos copos e partiu para preparar uma nova porção para degustarmos, desta vez era mandioca frita.
E ai tio, lembra quando fomos vender cafezinho e quibe na feira de sábado?
- Ah!lembro sim (risos).. Eu muito “zoião” saí com os quibes e você com o café e você vendeu tudo e eu apenas alguns quibes.
— Mas foi muito divertido ver nossa agonia em acordar de madrugada e ainda minha mãe me ajudou, lembra?
— Sim, sim, se não lembro, mas vamos pular esta parte vamos para a próxima.
Um sorriso enorme e debochado do baixinho fez se presente no bar da delícia, as cervejas e porções foram sendo consumidas e as lindas lembranças afloravam em nossa mente e fomos para mais uma lembrança.
— E ai tio, lembra quando fomos vender rodos e vassouras pelas ruas da Vila Maria, Vila Sabrina?
— Sim, se não lembro, você queria ir ao ratinho me denunciar porque queria o dinheiro das vendas dos rodos e das vassouras e acabou vendendo todos os rodos e vassouras numa comunidade. Lembra?
Outro sorriso fez-se largo no rosto do querido sobrinho e assim fomos lembrando de todas as nossas aventuras de negociantes regadas de muitas cervejas e foi quando o filho da Delícia veio dizer que o carro já estava lavado e aspirado, pronto para entrega.
O baixinho riu e disse:
— Ah!lava de novo, pois o papo com o tio Luiz está tão bom.
O filho da Delícia saiu sorrindo sem entender nada e foi lavar outro carro.
Depois de quase todos os casos vividos por nós serem lembrados nos abraçamos fraternalmente e o baixinho deu um beijo no meu rosto e disse:
- Gosto muito de você velho, se cuida viu e vamos embora encarar a Dona Sônia que deve estar brava, muito brava.
Desci as escadas da casa da minha irmã em passos trôpegos e sentei-me pesadamente em um velho sofá e fiquei imaginando o tanto quanto aquele meu querido sobrinho era gente fina.
Adormeci no sofá, acordei de madrugada balbuciando:
E ai baixinho vamos relembrar mais alguns “causos”?
Um encontro maravilhoso que nos proporcionou um grande e raro momento vividos nesta vida. Obrigado querido Evandro e descanse em paz que em breve daremos continuação a nossa prosa.