quinta-feira, 19 de novembro de 2020

COTA DE PALAVRAS

 Recentemente foi publicada uma pesquisa que teve a “paciência” de contar quantas palavras uma mulher fala por dia e chegaram ao surpreendente número de 30 000 palavras cotidianamente.

Existiu uma época em que trabalhei numa fábrica de remédios onde trabalhavam aproximadamente umas 800 mulheres e todos os dias éramos obrigados a ouvir as 800 mulheres falando simultaneamente e existia determinado momento que apenas o protetor auricular não era suficiente para barrar o “falatório” das queridas colegas de trabalho.

Num determinado dia eu e um colega de trabalho chamado Nélson resolvemos estabelecer uma cota de palavras por dia para as colegas de trabalho e assim nós colocávamos um determinado número num papelzinho e entregávamos as colegas e pedíamos que falasse somente aquela quantidade de palavras naquele período e ajudasse-nos a combater a poluição sonora no nosso ambiente de trabalho.

Quantas vezes fomos zombados com a tal da brincadeira, mas garanto que muito valia a brincadeira, pois, a existência de um pequeno lembrete no papelzinho dizendo: após sua cota encerrada, fique quieta, pois, só assim começaremos a gostar de você!

A brincadeira ia mais longe, pois, enquanto nós embalávamos milhares de remédios tentávamos criar uma história que reduziria drasticamente a quantidade de palavras faladas pelo ser humano e assim era a história:

Assim que nascêssemos nós receberíamos uma cota de palavras e um contador regressivo e a cada palavra falada ia abatendo do contador até que a cota terminasse e a pessoa ficasse muda e, nessa altura a gente se divertia observando algumas colegas de trabalho e dizíamos:

— Tá vendo a Regina como fala, está com apenas 20 anos garanto que ficaria muda! A Tati também fala muito, garanto que aos doze anos não pronunciaria mais nenhuma palavra.

Nossa mente divagava longe do ambiente de trabalho e ficávamos pensando em vários vendedores, palestrantes, alguns apresentadores da TV e sorríamos largamente.

Nossa brincadeira durou pouco, pois, algumas colegas de trabalho temendo ficarem mudas denunciaram a gente para nossa supervisora que gentilmente pediu para que ficássemos calados. Assim prosseguíamos quietinhos embalando nossos milhares de remédios e sempre pedindo aos nobres pesquisadores farmacêuticos que inventassem um remédio que fizessem as meninas ficarem quietas.

O tempo foi passando e nossa cota de palavras acabou e a mulherada continuou a falar desesperadamente e nós ficamos quietinhos num canto da fábrica observando a beleza das palavras faladas pelas queridas colegas de trabalho.

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...