Em 1970, eu era um adolescente de 15 anos e estava
vivendo a melhor época de toda a minha vida, isto eu ainda não sabia, digo isto
agora..., mas como todo garoto daquela época, já trabalhava com carteira
assinada numa cia. de seguros, no centro da cidade de São Paulo, tinha algumas
paquerinhas e adorava passar as tardes de sábados no Centro Educacional da
Moóca, na piscina, e quando eu chegava em casa começava a preparar-me para ir a
um baile chamado “O Cafona”, que ficava na Vila Ré, zona leste da cidade de São
Paulo.
Assim que eu
chegava em casa tomava um demorado banho de balde, perfumava-me com um
desodorante barato e vestia uma calças boca de sino azul com listras brancas e
cintura bem alta, uma camisa “Gola Olímpica”, que chamávamos carinhosamente de
“Volta ao Mundo”, um sapato com saltos enormes, chamado salto carrapeta e um
cinto com uma fivela imensa. Repartia meus cabelos compridos ao meio,
emprestava algum dinheiro do meu pai e ia ao encontro dos amigos Israel e
Luizão para encontramos as meninas mais bonitas da nossa região, nos bailes do
Cafona.
Assim que eu
encontrava com meus amigos eu era zombado com vários assobios, enaltecendo meus
trajes e o agradável odor de perfume de quinta categoria e lá seguíamos nós em
plena “louçania” dos nossos 15 anos, falando muito sobre o cotidiano, das
lindas meninas que se déssemos sorte encontraríamos no baile, sorrisos altos e
olhos observadores para tudo e para todos.
Após uma caminhada
de uns trinta minutos, chegávamos ao Cafona e ficávamos observando as lindas
meninas chegarem com os cabelos estilo Chanel, com muito “laquê”, vestidos
rodados e sorrisos alegres, algumas vinham acompanhadas dos pais, o que nos
deixava muito apreensivos, pois, sabíamos que seria muito difícil abordá-las.
Após alguns
minutos naquele flerte, tomávamos coragem, passávamos a língua nos lábios e
entrávamos sem muita purpurina. Às vezes éramos notados logo na entrada e
ficava fácil bailarmos as três horas apenas com uma única menina. Isto
acontecia muito raramente, pois, na maioria das vezes éramos obrigados a
garimpar nosso tesouro com muito esforço, mas sempre acabava por arranjar
alguma garota interessante.
Os meus amigos se
davam muito bem, pois, eles eram “galinhas”, hoje o pessoal fala “pegador”,
bailavam com quase todas as meninas, sem restrição, agora eu era um pouco
tímido e meio “bobão”, pois, não aceitava bailar com qualquer menina e sempre
escolhia as mais bonitas, o que diminuía muito minhas chances de arranjar
alguma menina para dançar. Quantas vezes passava o baile todo observando os
meus amigos bailando e eu bebendo guaraná e de olho em alguma “linda” e ela não
dava a mínima chance de aproximação.
Quando anunciavam
a última música, ficávamos desesperados para encontrar alguém, valia tudo, o
importante era dançar a última música que se chamava Rock Roll Lo Lo Bye
cantada por B.J.Thomas. Rostos colados e os olhares de algumas mães colados na
gente, nada de grave acontecia, a não ser alguns cochichos inaudíveis
prometendo vir no próximo baile e sempre enaltecendo a beleza que às vezes não
condizia com a realidade, mas valia tudo, até dar alguns “pisões” nos pés das
damas e ser largado em plena música. Que vergonha!
Terminada a
música, dávamos um enorme suspiro e saíamos com a alma repleta de felicidade,
alguns beijinhos em algumas meninas sempre prometendo o retorno no próximo
final de semana e pé na estrada porque se fazia tarde, afinal tínhamos que
chegar em casa antes da meia-noite.
Quantos bailes!
Quantas alegrias vividas ao longo da nossa adolescência que hoje permanecem no
meu coração e faz-me sentir que vivemos nossa época intensamente, com a pureza
e alegria dos jovens da geração 70. Que saudades!