Em 1970 eu tinha
quinze anos e consegui meu primeiro emprego com carteira assinada em uma
companhia de seguros perto da praça da sé. Trabalhava durante o dia no horário
comercial, ou seja, das 8 horas até às 17 horas e depois ia direto terminar
meu curso ginasial a noite no Ginásio Estadual Cidade de Hiroshima, em
Itaquera, São Paulo, Brasil.
Meu grande sonho
naquela época era tornar-me um fotógrafo profissional e poder andar pelo mundo
fotografando paisagens em lugares nunca pisados pelos homens. Desde criança
tinha este espirito aventureiro e fazia de tudo para ver meu sonho realizado.
O dinheiro que eu
ganhava exercendo o cargo de office-boy não era muito, mas eu ficava muito
feliz com aquela quantia irrisória que ganhava no final do mês, pois ajudava
meus pais com uma insignificante quantia e o resto era gasto em idas aos
cinemas com minhas namoradinhas e comendo cachorro quente com tubaína com os
amigos Israel e Luizão na pastelaria do bairro de Arthur Alvim.
O tempo foi
passando e resolvi comprar uma máquina de fotografia para poder exercitar e
poder aprender mais sobre o encantado mundo da fotografia, pois naquela época
eu era um moleque cheio de sonhos e vontade de conhecer o mundo.
Na hora do almoço
eu descia do vigésimo primeiro andar do edifício onde eu trabalhava e ia até o
Mappin para ficar espiando as vitrines e sonhando em poder um dia comprar uma
máquina de fotografia. O tempo foi passando e resolvi falar dos meus sonhos com
o Senhor Rubens, gerente da companhia de seguros onde eu trabalhava para ver se
ele podia adiantar o valor da máquina de fotografia e descontar do meu minguado
salário.
Quando disse o
valor da máquina fotográfica para o senhor Rubens ele balançou a cabeça e
disse:
- Mas. Luiz, você
tem certeza que deseja adquirir uma máquina fotográfica tão sofisticada assim?
Timidamente
balancei a cabeça positivamente e o senhor Rubens concordou em adiantar o valor
da máquina fotográfica e disse que iria descontar todos os meses um pouquinho
de dinheiro até inteirar o valor total da máquina fotográfica.
A minha alegria
era tanta naquele dia que não cabia dentro da perfumada sala do senhor Rubens e
assim fez um vale no valor da máquina e pediu para eu retirar o dinheiro com a
dona Joana que era a contadora da companhia de seguros.
Peguei o dinheiro
e levei para minha casa e disse para minha mãe e para o meu pai que tinha
emprestado do senhor Rubens para comprar a tão sonhada máquina fotográfica.
Sorriram e aprovaram o pedido com certa ressalva, que eu não me afastasse muito
de casa para fotografar tudo e todos. No sábado que sucedeu o empréstimo fui
até o Mappin e comprei minha primeira máquina fotográfica e voltei para casa
encantado e já no ônibus vinha lendo o manual de instrução para saber como
operar a linda máquina de fotografia.
Passei a tarde
toda lendo o manual de instrução e tirando as primeiras fotos. A primeira foto
pedi para minha família que reunisse e ficassem bem pertinho para serem
fotografados. Entre risos e o primeiro “clic” o meu sorriso de satisfação podia
ser ouvido a quilômetros de distância.
Comprei um filme
de trinta e seis poses, então poderia tirar trinta e seis fotos e a seleção das
fotos era eu que fazia sem nenhum critério, apenas observando o que era belo.
Naquela época era minha família, plantas, árvores, animais de estimação,
crianças e principalmente a cidade de São Paulo que tanto eu amava.
Não demorou muito
e eu já tinha tirado, batido, clicado as trinta e seis fotos e fui logo levar
para dona Matilde que tinha uma lojinha perto de casa para poder revelar as
fotos.
Assim que recebi
as fotos percebi que eu estava muito longe de ser um fotógrafo profissional,
pois várias fotos queimaram, outras saíram tremidas, embaçadas, enfim um desastre
minha primeira seção de fotos e foi quando eu resolvi matricular em um curso de
fotografia para iniciantes.
E assim todos os
sábados lá estava eu sentado ao lado de mais alguns garotos e alguns senhores
aprendendo o encanto e a magia do mundo da fotografia.
Passados alguns
meses eu já dominava as técnicas de manejo da minha máquina de fotografia e foi
quando resolvi fazer um álbum de fotografias de plantas que tanto amava e amo
até hoje.
Minha mãe naquela
época lavava as nossas roupas em uma mina de água perto de casa e pedi a ela se
podia acompanha-la até a mina, pois necessitava fazer algumas fotos para levar
para minha professora de botânica.
Cuidadosamente
coloquei a máquina no pescoço através de uma cordinha, peguei o enorme cesto de
roupas e descemos a rua rumo à mina. Era uma verdadeira festa quando minha mãe
se encontrava com outras lavadeiras da mina e assim que chegamos comecei a
procurar as primeiras plantas aquáticas para poder fotografar. Tinha que
ajustar o ângulo, sombreamento, distância e outras dicas que o professor de
fotografia tinha passado nos últimos três meses.
Os cliques
misturavam-se com algumas poucas palavras das lavadeiras e algumas cantigas
entoadas e o barulho de roupas sendo batidas numa enorme madeira que ficava ao
lado da mina.
Às vezes mirava às
lentes da minha máquina em direção as lavadeiras dizendo que ia tirar uma foto
para guardar de lembrança e algumas lavadeiras tímidas cobriam o rosto com as
mãos.
Passei a tarde
toda tirando fotos de plantas, árvores, do lago, da mina e algumas das
lavadeiras e a fomos embora cheio de alegria.
Na semana seguinte
que tirei as fotos levei para revelar e quando fui retirar as fotos o coração
parece que batia mais forte de tanta emoção.
Quando cheguei à
minha casa sentei-me no carcomido sofá e comecei a ver as fotos que tinha
tirado e cada foto que tinha sido tirada com perfeição eu dava gritos de
alegria que até assustavam todos da minha família.
Montei o álbum com
as fotografias e levei para minha professora de biologia para ver e foi quando
ela perguntou quem tinha tirado aquelas lindas fotos e quando eu disse a ela
que tinha sido eu ela não acreditou e disse para eu seguir em frente que iria
ser um grande fotógrafo. Quanto orgulho e alegria senti naquele dia, meu
primeiro elogio que me lembro até hoje quando tiro algumas fotos.
O tempo foi
passando, passando e eu cada dia mais interessado em aprender mais sobre
fotografia e fazendo lindas fotos de lugares inusitados, festinhas de crianças,
aniversários, casamentos, dias comemorativos e tantos outros eventos.
Hoje não sou
fotógrafo profissional, apenas tenho a fotografia como hobby e aonde vou levo
minha máquina fotográfica para tirar algumas fotos e poder guarda-las para
mostrar para a posterioridade.