segunda-feira, 15 de abril de 2019

O IMITADOR DE GATO




Não me contive quando terminei de ler uma deliciosa crônica do querido escritor Lourenço Diferia. A descrição do escritor é perfeita e quando ele descreveu o imitador de gato imediatamente lembrei-me deste gato e se não me falha a memória parece que é o mesmo gato que sempre estava na querida e velha Praça da Sé na década de 70.
Lembrei-me que eu sempre parava na Praça da Sé quando eu era office boy numa Cia.de seguros que ficava na Praça Padre Manoel da Nóbrega para observar os artistas que por lá se apresentavam e sempre encontrava o imitador de gatos e o espetáculo era fantástico e entre os rostos atônitos de espanto e curiosidade sempre dava muito dó do bichano.
A maioria dos admiradores que assistiam ao espetáculo sabia que toda aquela encenação não era verdadeira, mas por lá permaneciam para ver as peripécias do imitador de gato com um saco todo encardido e um apito escondido dentro da boca.
A mulher chegou segurando a mão de um garotinho que insistia para que a mãe parasse para ver o que estava acontecendo e foi infiltrando no meio da multidão que se espremia ao redor do imitador de gato. Ficaram bem pertinho do artista e entre uma pancada e outra e incontáveis miados que parecia que vinha do saco encardido o povo ria sob um olhar apreensivo do garotinho.
Repentinamente o garotinho soltou da mão da mãe e saiu correndo em direção ao “torturador” do felino e tentou impedir tamanha crueldade com o gato. Chorando muito e pedindo para que o artista parasse de espancar o inofensivo animalzinho.
Todos que estavam admirando o espetáculo ficaram quietos para ouvir o que o garotinho pedia para o imitador e gato e entre soluços incontroláveis e lágrima correndo pelo ingênuo rostinho do garotinho ouvia-se:
- Para de bater neste gato, coitadinho, deste jeito você vai acabar matando o animalzinho.
O imitador esboçou um sorriso e calmamente foi até o encardido saco e mostrou ao garotinho que lá dentro não existia nenhum gato. Foi quando o garotinho disse:
- Mas eu o ouvi miar, quem miou? Foi um gato não foi? Onde foi parar o gato, será que ele fugiu?
O imitador de gato passou a mão na cabeça do garotinho e disse:
- Olha bem na minha boca, tem este assobio que eu imito os miados.
E voltou novamente a miar desesperadamente mostrando o assobio dentro da boca. Entre um abraço apertado o garotinho voltou aliviado e sorrindo ao encontro da mãe e o imitador de gato juntou seus apetrechos e foi miar em outro canto da cidade.

Um comentário:

  1. Vixe! Até eu sofri com a narração de sofrer do garoto....Legal....voltou com tudo.. Vc.é o cara.Parabéns. ..

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