quarta-feira, 16 de setembro de 2020

EMPADAS DA VILA

 



No início do ano de 2018 lá estava eu jogado no  mundo  novamente, peregrinando de um local para  outro   carregando    sessenta  e  três anos  de   experiência     nos  velhos    e   flácidos   ossos   e   em  um determinado dia  bebendo  umas  cervejas em um boteco da periferia comecei  a  meditar  sobre a minha estadia neste mundo e quando eu já estava  semiembriagado  comecei   a  fazer  e responder   algumas perguntas para mim mesmo. Ingeria  um  gole de cerveja e fazia uma pergunta   e   eu   mesmo   respondia  mentalmente.  Foi quando fiz a seguinte pergunta:

- E ai querido amigo Luiz até quando você irá continuar neste caminho de cigano?
Parei um pouco para pensar e meneei a cabeça em busca de uma resposta e após alguns segundos falei.
- Sabe acho que chegou a hora de tomar um rumo na minha vida, mas diga lá como posso seguir outra direção?
- Ah, então vou elucidar sua mente, o que você sabe e gosta de fazer atualmente?
Quando esta pergunta percorreu alguns poucos neurônios que ainda se mantinham lúcidos respondi rapidamente.
- Ora, pois bem, você deve saber muito bem que adoro fazer é vender empadas!
- Pois aí está a chave da porta da sua nova vida, porém existem algumas restrições, não pode mais beber bebida alcoólica enquanto você estiver se aprumando, o que diz?
Pensei, pensei e quase desisti do acordo com meu subconsciente, mas meio contrariado disse que iria seguir as orientações impostas pelo mesmo.
Paguei a conta e fui caminhando sem rumo pelas ruas desertas do distante bairro da periferia e tentando achar onde poderia ficar até eu conseguir minha independência financeira e num estalo na mente resolvi mais uma vez pedir uma estadia por pouco tempo na casa da minha irmã Sônia e contar todo o meu planejamento para ela.
Logo de manhã apareci na casa da minha irmã e pedi se poderia ficar alguns meses na casa da mesma e manteria-me fazendo e vendendo empadinhas. Minha irmã sorriu e com ar de desconfiada foi logo dizendo.
- Olha Luiz você pode ficar aqui o tempo que você quiser fazendo e vendendo suas empadinhas, mas tem um porém, não pode beber bebida alcoólica, o que diz?
- Sim, digo que sim, pois necessito muito conseguir algum dinheiro para poder alugar um cômodo e ir morar sozinho, aceito.
Acertamos uma determinada quantia que eu precisava pagar diariamente e lá comecei eu a fazer minhas empadas e vendê-las pelas ruas dos bairros da zona norte da cidade de São Paulo.
Quando você tem um suporte ou alguém para ajudá-o em uma determinada empreitada o fardo torna-se bem mais leve, mas eu não contava com o apoio de ninguém, eu fazia as empadas e eu mesmo tinha que vender.
No começo a minha intenção era vender algumas empadas diariamente e ganhar o suficiente para pagar minha estadia e quando novamente o meu subconsciente voltou a conversar comigo:
- Oh! querido, desta maneira de pensar e agir você sempre estará sob os pés de alguém, sempre será aquele cisco insignificante que fica embaixo do rodapé.
Parei um pouco sob uma árvore em uma grande praça e fiquei digerindo aquelas dicas do meu subconsciente e esbocei um sorriso de deboche e continuei de comércio em comércio oferecendo minhas empadas.
No começo, como todos os começos de uma atividade é muito difícil  até conseguir conquistar os primeiros fregueses, mas eu não esmorecia jamais e vamos andando e oferecendo as empadas. Quando eu saia para vender minhas empadas, inicialmente poucas, muito poucas, apenas vinte empadas diariamente, o que seria suficiente para pagar minha estadia na casa da minha irmã e beber uma tubaína num boteco qualquer.
Fazia as empadas durante a madrugada para não atrapalhar os preparos dos alimentos da família da minha irmã, pois eu utilizava a mesma cozinha para fazer as empadas.
Após algumas semanas fazendo e vendendo as empadas já tinha conquistado e definido alguns clientes em potencial, eram eles, pessoas idosas e pessoas orientais.
Pronto, pensei até em vender no bairro da liberdade, onde aos domingos tem uma feirinha repleta de pessoas com os olhinhos puxados, mas logo optei por um não, pois a feirinha acontecia aos sábados e aos domingos de manhã.
Tracei e planejei vender em cinco bairros diferentes na zona norte: segunda-feira venderia na Vila Maria baixa, na terça feira venderia na Vila Medeiros, na quarta-feira venderia na Vila Sabrina, na quinta-feira venderia no Jardim Japão e na sexta-feira venderia no bairro do Belém, o único que ficava na zona Leste de São Paulo e aos sábados e domingos venderia as empadas nas feiras da Vila Maria Baixa e na feira da Vila Medeiros.
Pronto, as primeiras forminhas foram compradas, a caixa de isopor e necessitava de uma bolsa para carregar a caixa de isopor e através da minha querida irmã Silvinha fomos até uma costureira perto de casa e lá estava a Dona Gemina pronta para ajudar a confecção da primeira bolsa. Bolsa confeccionada, forminhas de alumínio, forminhas de papel, guardanapo, saquinhos de papel comprados era hora de desenvolver, prospectar um bom fornecedor para minha matéria-prima, as empadas. Inicialmente comprava em um supermercado próximo da casa da minha irmã e com o passar do tempo comprava tudo em um grande atacadista no bairro do jaçanã.
Consegui trinta clientes fieis que compravam diariamente e os outros dez clientes eram pessoas que ora compravam ou não compravam. Minha meta era vender pelo menos quarenta empadas diariamente e esta meta foi alcançada em apenas dois meses de muito trabalho e muito sapato gasto, pois andava muito.
Em um determinado dia vendendo minhas empadas resolvi prestar mais um concurso público e me inscrevi pela internet, fui fazer a prova e fui aprovado. Chamaram para apresentação dos documentos dois meses após a realização da prova. Comecei a trabalhar em um órgão público, aluguei uma casa em um bairro muito distante da Vila Maria, em Guarulhos e abandonei minha empresa de empadas. Mas continuei fazendo as empadas, apenas para degustação em família. Mas em breve, quando eu aposentar retorno com minha nano empresa de empadas, mas desta vez irei vendê-las na praia, apenas para passar o tempo e conhecer novas pessoas, novos ares.

 

8 comentários:

  1. Irmão tenho muito orgulho de você,pois sempre com esse seu jeito mostra para as pessoas que podemos tudo com fé amor e bom ânimo conquistar fortuna que labida nosso viver a liberdade de viver! bjs na sua alma

    ResponderExcluir
  2. Esse seu sonho vai se tornar realidade muito em breve,mas tudo ao tempo de Deus.Em minhas orações diárias,peço sempre a Deus pela sua saúde e pelo seu sucesso.Um forte abraço deste seu amigo que lhe quer muito bem.

    ResponderExcluir
  3. Em minhas orações diárias,peço sempre a Deus que lhe dê muita saúde e Que o seu sonho se torne realidade muito em breve.Um forte abraço do Beto cantor.

    ResponderExcluir
  4. Meu esposo adorou sua empada. Boa sorte com seu sonho! Logo, logo estará na praia vendendo sua empadas.

    ResponderExcluir
  5. Como é bom poder degustar cada palavra ao sabor nostálgico de uma vivência unica.
    Escrever pode não dar dinheiro ,mas engrandece a alma e limpa o coração ,nos deixando mais apto a seguir adiante mesmo nos momentos infortunios que a vida nos impõe.
    A maior fortuna é aquilo que deixamos plantado na lembrança daqueles que passaram por nossa vida.
    Um abraço deste fã e primo
    Zezinho

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  7. Ohhhh Seu Luiz,saiba que em minha vida foi um prazer em conhecer o senhor.
    Senhor Alegre e esforçado,e que faz uma empada deliciosa.
    Fica aquele abraço do seu amigo beudo,Filipe.

    ResponderExcluir

LIBERDADE

  Há tempos que venho sendo acordado pelo mavioso canto de um pássaro na velha jaqueira existente no quintal da casa onde eu moro. Acordava,...