Após a vasta documentação ser entregue no Recursos Humanos, fazer exame médico, fiquei aguardando a publicação no Diário Oficial do Estado de São Paulo. Demorou apenas quinze dias e fui convocado para iniciar minhas atividades na Faculdade.
No primeiro dia de serviço em qualquer lugar do mundo, ficamos muito apreensivos, ansiosos e sedentos para saber aonde iremos trabalhar, quais pessoas conheceremos, como será o ambiente de trabalho.
Apresentei me no RH no dia especificado e lá estava o Luizão, chefe do RH que se apresentou e levou eu até uma minúscula salinha e apresentou-me para o Carlos chefe da seção onde eu iria trabalhar. Naquele exato momento quase chorei de raiva e pensava: caramba! Estudei tanto, dei o melhor nos estudos, passei noites em claro debruçado em cima de apostilas, resolvendo vários exercícios de matemática e Língua Portuguesa e acabo caindo neste lixo. Respirei fundo, enxuguei um pouco do suor, esbocei um sorriso no canto da boca e assim fui abandonado naquela minúscula salinha. O Carlos apontou uma mesinha toda velha onde eu iria ficar e começou a explicar o que eu iria fazer, fiquei atento e após todo o dia explicando e apresentando todos os departamentos da Faculdade estava decidido a continuar, pelo menos por alguns dias ou meses para ver o que acontecia.
O Carlos era uma pessoa de muito alto astral, de bem com a vida, sorridente e de pouca idade assim como eu que tinha apenas vinte e um anos.
A Faculdade de Odontologia naquela época, 1978, parecia uma pequena cidade onde todos se conheciam e era muito movimentada, pois, oferecia tratamento dentário gratuito para as pessoas que necessitavam. Com o passar do tempo já me sentia em casa e aprendi todo o serviço que consistia em cadastrar todos os bens móveis da Faculdade e identificar e apresentar um relatório mensal atualizado, era a seção de Patrimônio.
Eu, naquela época fazia um curso Técnico em uma escola Técnica Federal em São José dos Campos, era casado recente e todos os dias eu ia a pé até a Faculdade.
O Carlos, muito brincalhão e sorridente começou a colocar apelido em todas as pessoas que trabalhavam na Faculdade e ainda me envolvia nas suas brincadeiras, no início ficava um pouco temeroso, mas com o passar do tempo até sugeria alguns apelidos, foi o que aconteceu com uma colega que trabalhava no Departamento de Dentística e fui logo sugerindo durante um bate-papo na hora do almoço:
— Carlão, o que você acha da Ana? Após alguns segundo pensando o Carlão respondeu:
— Ah! Acho ela uma pessoa muito brincalhona, feliz com a vida, muito sorridente, por quê?
- Você não pensa que a Ana tem a cara da sexta-feira?
Após uma sonora gargalhada o Carlão disse:
— Está aí, a partir deste momento está decretado que nossa querida Ana passará a chamar-se Ana Sexta Feira, e não falamos mais nisso e que ela demore a descobrir o que se enconde atrás dos nossos sorrisos quando ela aparecer na nossa frente.
O tempo foi passando e a relação de pessoas que iam ganhando apelidos era enorme e sempre que a Ana ia tirar xerox passava na nossa minúscula salinha para dar um alô e jogar meia dúzia de palavras fora e era quando começávamos a sorrir.
Inicialmente a querida colega Ana não entendia nada o que estava acontecendo e a conversa continuava normalmente até que em um dia no Diretório Acadêmico da Faculdade, exatamente em uma sexta-feira estávamos bebendo algumas cervejas para oxigenar a mente e após alguns copos de cervejas a Ana fez a seguinte pergunta:
- Sabe pessoal, tenho notado que quando apareço na seção na qual vocês trabalham vocês ficam com sorrisinhos entre uma conversa e outra, o porquê destes sorrisos?
O Carlão olhou pra mim e resolvemos contar para a Ana o porquê dos nossos sorrisos: e o Carlão falou:
- Sabe Ana, eu e meu amigo Luiz começamos a apelidar todos os funcionários da Faculdade e você também ganhou um apelido, sabia? A Ana muito curiosa quis saber qual era o apelido e foi logo perguntando:
— Qual apelido vocês deram para mim e o por quê?
O Carlão sorrindo disse: seu apelido é Ana Sexta Feira e já foi logo explicando: porque você tem a cara da alegria, a cara da felicidade, é uma pessoa muito bonita e gostamos muito de você.
Sentimos algumas lágrimas rolarem no rosto da Ana e ela levantou e deu um forte abraço na gente e agradeceu muito pelo apelido e nós ficamos aliviados em acertar o apelido para nossa amiga.
A partir daquele dia a Ana que já era uma pessoa muita alegre, extrovertida sempre que nós nos encontrávamos ela sorria com aqueles lindos dentes branquinhos e dizia:
- Já sei que meu apelido é Ana Sexta Feira e tenham um bom dia! e saía apressada sempre sorrindo para levar um documento em algum departamento.
Quando chegou final do mês de janeiro de 1981 minha esposa Ivete ía ganhar o primeiro filho, o Márcio e eu estava muito feliz e disse para Ana se ela poderia levar minha esposa de São José dos Campos até Jacareí quando o garoto nascesse e ela prontamente disse que sim. Naquele dia foi muito engraçado, pois, fomos até o hospital no lindo fuscão vermelho que a Ana tinha e ela falava: Segura que aqui é volante! e sentava o pé no acelerador. Chegando em casa ela se prontificou a furar o bico da mamadeira para dar a um chazinho para o Márcio e quase matamos o garoto, pois, a Ana fez um buraco muito grande na pequena mamadeira e ele se engasgou. Após o susto passar, entre um sorriso e outro a Ana se despediu desejando Felicidades para todos nós.
Todas as sextas-feiras participávamos de um jogo de futebol na quadra devidamente uniformizados e já tínhamos até torcida organizada e sempre nossa querida Ana Sexta Feira fazia se presente.E quando para nossa surpresa a Ana falou que iria se casar que gostaria muitíssimo que fossemos e foi um casamento muito diferente, pois, não sabíamos que o namorado da Ana era um soldado do Corpo de Bombeiros e quando todos estávamos dentro da igreja escutamos várias sirenes ao redor da igreja e saímos para ver o que estava acontecendo e eis que parou um carro da corporação do corpo de bombeiros e a Ana saiu do carro toda sorridente e entrou na igreja com aquele sorriso maravilhoso.
O tempo foi passando, passando e em um determinado dia após eu me formar em Eletrônica fui trabalhar em uma fábrica de equipamentos para Aeroportos. Despedi-me de todos, dei um forte abraço na querida Ana Sexta Feira e saí com aquele sorriso lindo na minha mente da querida Ana, Ana Sexta Feira.
Parabéns...adoro ler suas crônicas.grande bio.
ResponderExcluirParabéns! Sabe contar histórias e escrever com detalhes, emoções e todas as concordâncias verbais, nominais, usa o verbo no particípio, os predicados, as locuções, sabe como nao ser redundante.
ResponderExcluirEscrita de quem sabe escrever é outro nível.
Quando eu crescer quero ser assim.
Um forte abraço.